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DIREITOS HUMANOS

Governador e senadoras de MS têm antepassados escravizadores

Estudo mapeou a genealogia de 116 políticos, incluindo ex-presidentes, senadores e governadores

Por TERO QUEIROZ* • 19/11/2024 • 10:18
Imagem principal Da esquerda para a direita: Riedel, Tereza Cristina e Soraya Thronicke. Crédito: Agência Pública

Uma investigação da Agência Pública dentro do Projeto Escravizadores revelou que 33 autoridades brasileiras têm antepassados ligados à escravidão. A publicação original

Do total, são destaque na lista o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB) — o sexto avô de Eduardo Riedel, Jerônimo Pereira do Lago, deixou escravizados em seu inventário. Sua filha, Ana Silvéria do Lago, e o marido, Joaquim Rodrigues Terra, possuíam 15 escravizados em 1831, em Minas Gerais. 

Também está na lista a 'Musa do Veneno', ex-ministra bolsonarista e atual senadora Tereza Cristina (PP) —o tataravô dela, Antonio Côrrea da Costa I, foi proprietário de engenhos e possuía 194 escravizados. Nascido em 1782, ele também foi presidente da Província de Mato Grosso e deputado. Além disso, tinha 8 mil cabeças de gado e 10 casas em Cuiabá. 

Consta na lista de descendente de escravizadores ainda a senadora Soraya Thronicke (PODE-MS) — tem como tataravô Albino Jacinto de Oliveira, que deixou sete escravizados em seu inventário de 1879, incluindo Januário e Damásia, ambos doentes. Ele faleceu em 1879 no Rio Grande do Sul.

O estudo mapeou a genealogia de 116 políticos, incluindo ex-presidentes, senadores e governadores.

A pesquisa identificou que muitos desses políticos descendem de indivíduos que utilizaram mão de obra escravizada.

Esses antepassados também estavam envolvidos na repressão de movimentos de resistência negra e indígena.

A maioria dos presentes na lista são da extrema direita.

Apesar disso, também há políticos de esquerda na lista, como Helder Barbalho (MDB-PA) e a senadora Augusta Brito (PT-CE).   

O levantamento foi realizado com apoio de genealogistas da Universidade Federal do Paraná e financiado pelo Pulitzer Center.

Dos oito presidentes pós-1964, metade tem vínculos com a escravidão: José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Entre os 81 senadores, 16 têm antepassados envolvidos com a escravidão, incluindo Marcos do Val e Marcos Pontes.

Além disso, 13 governadores, de 27 investigados, também têm raízes escravocratas, incluindo:  o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas; governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro; Governador de Goiás, Ronaldo Caiado; governador de Minas Gerais, Romeu Zema e Jorginho Mello (governador de SC).

A análise de documentos históricos revelou que muitos desses antepassados usaram trabalho escravizado em suas propriedades.

Além de fazendas, o trabalho forçado era utilizado em atividades comerciais e nas casas dos senhores.

Por exemplo, o tataravô de Fernando Henrique Cardoso estava envolvido na exploração mineral, utilizando pessoas escravizadas.

A pesquisa analisou cerca de 500 documentos históricos, como registros de batismo, casamento e testamentos.

Muitos desses documentos revelaram o uso de escravizados em pequenas propriedades e comércios, não apenas grandes fazendas.

O estudo foi coordenado pelo sociólogo Ricardo Oliveira e utiliza registros de igrejas e cartórios.

O Projeto Escravizadores busca ampliar a pesquisa para incluir o Judiciário e outros setores políticos.

O projeto segue modelos semelhantes realizados nos EUA e no Reino Unido, que também investigaram elites políticas.

A escravidão no Brasil, que durou até 1888, deixou um legado de desigualdade que persiste até hoje.

A dívida histórica do Estado com os descendentes de escravizados é um tema central no debate sobre reparações sociais.

Pesquisadores apontam que políticas de reparação devem ser implementadas para corrigir essas desigualdades.

A historiadora Joana Rezende defende que o governo invista na preservação de documentos históricos sobre a escravidão.

Leia a íntegra do Projeto Escravizadores, que desafia o Brasil a confrontar um passado que ainda repercute nas desigualdades sociais atuais.

*FONTE: Agência Pública - o texto original é assinado por Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Mariama Correia.


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