O sargento da Polícia Militar, Jeder Fabiano da Silva Bruno, de 45 anos, foi filmado rimando na Batalha da Cinquenta, na última 4ª.feira (26.abr.23), em Dourados (MS).
A PM havia abordado o grupo numa verificação de rotina, na Praça do Cinquentenário, na Avenida Marcelino Pires, ao lado da Biblioteca Municipal Prof. Chester Soares Bonfim, onde a batalha acontece desde 2019.
“Quando vimos a aglomeração, parei a viatura pra observar e vi que era um grupo de batalha de Rap”, contou o Sargento.
O PM é conhecido pelo apelido ‘Brunão’ e cresceu nos bairros periféricos da Cachoeirinha e Vila Erondina, onde teve contato com a Cultura Hip Hop desde a infância. O policial revelou que ao recordar o período que cantava rap, sentiu vontade de participar da batalha.
“Vi que ali era uma batalha. Meu coração me tocou e falou: ‘Cara, por que não participar?’. Observei, vi que não tinha droga, nem nada. Vi que era um ambiente salutar”, argumentou.
Diante disso, o militar pediu ao organizador se poderia ‘comandar a voz’, cantando uma música autoral. “Eu me senti tão à vontade, voltei na máquina do tempo, vi a meninada e vi que o ambiente não estava ruim. Acabei pedindo o microfone e comecei a rimar. O rap que cantei fiz em meados de 1995 a 1996”, explicou. Eis o vídeo:
A postura do PM surpreendeu a todos, por ser bastante diferente em comparação com a maioria dos membros da instituição.
O servidor avaliou como positiva a integração entre as forças de segurança, cultura e juventude. “Foi uma oportunidade ímpar do relacionamento da instituição Polícia Militar com a juventude. No primeiro momento, eles tiveram um receio por conta de ser o Estado ali, afinal de contas, eu represento o Estado. O meu coração falou: ‘leva um Rap pra essa molecada, mostra que você é ser humano igual eles e não uma máquina (sic)”, narrou.
Os organizadores da batalha são Heloíza Ferreira, Rafael Dias, Arthur Gabiatti, Gustavo Mattos, Juliana Faria, Lilian Correia, Lohan Cabreira, Alandisson Santos e Lorena Kermessi.
À reportagem do TeatrineTV, Arthur explicou que inicialmente foi um susto para os MC's. "Achamos que tinha dado algum problema quando a viatura chegou, por conta de estarmos no local que não é o habitual da batalha, por conta que choveu e alagou toda a região que dá acesso ao palco, devido ao sistema de drenagem não ter manutenção ali", contou enviando este vídeo abaixo que mostra o local alagado:
Apesar disso, após a participação de Brunão na Batalha, Arthur também celebrou a integração do estado como movimento cultural de rua. "A repercussão tem sido majoritariamente boa, já que mostra uma integração estado-movimento cultural. No entanto, ao mesmo tempo, muita gente não curtiu por conta de experiências passadas com a polícia dentro do hip-hop, em que houveram diversas abordagens truculentas em batalhas de rimas e tal. No geral, é daora isso ter ocorrido por quebrar o estigma normalmente relacionado a PM e hip-hop (sic)", avaliou.
CONEXÃO MUSICAL
Conforme o PM, a letra feita há mais de 20 anos, fala sobre discriminação da sociedade, a necessidade que algumas pessoas têm de autoafirmação e aborda o preconceito que existe em julgar as pessoas pela aparência e origem.
“É um erro muito grande acreditarmos que a pessoa que curte o rap por si só é um bandido, um marginalizado, não podemos pensar assim até porque eu sou do rap, do samba, sou músico e fui cabo do quadro de músicos da PM”, pontuou.
Antes de carreira militar, o PM disse ter escrito várias letras de rap. Ele 'voltou no tempo' e expôs um pouco da sua história de vida. “Eu fui um dos participantes do embrião do Fase Terminal aqui de Dourados, um grupo de rap que ficou famoso nacionalmente. Eu fui rapper, já escrevi antes de ser policial”, disse.
Antes de soltar a voz na roda de batalha de rima, ‘Brunão’ havia cantado rap pela última vez em 1997. “Foi quando fizemos uma participação num encontro de rap na escola Capilé, numa sexta à noite. Vários grupos vieram, foi um evento muito grande”, reviveu.
Meses após o encontro, ele ingressou na Polícia Militar em 1998, em conformidade com um desejo do pai. “Ele via no militar uma pessoa austera, proativa, de postura indubitável. Eu acabei por seguir a carreira porque desenvolvi esse amor por conta da paixão que o meu pai tinha”, revelou.
Com o ingresso nas forças de segurança, a carreira no rap foi arrefecendo, mas nas horas livres o PM disse que gosta de atuar como DJ e escuta muito rap, onde costuma encontrar muita verdade. “Hoje orgulhosamente sou o segundo sargento da Polícia Militar, feliz, realizado profissionalmente e em paz comigo mesmo”, concluiu.
*Créditos adicionais:
- Usamos parte do conteúdo original do Campo Grande News.