O 1º grupo de rap indígena do Brasil, o Brô MC's, realizou shows na 19ª edição do Acampamento Terra Livre, que teve início em 24 e segue até 28 de abril de 2023 na Esplanada do Ministérios, em Brasília (DF).
Na 2ª.feira (24.abr), o Brô MC's abriu o show no palco com Alok — o grande sucesso da música eletrônica brasileira.
Com o astro, os integrantes do grupo interpretaram a música Jaraha — trilha na novela Panatanal, da TV Globo — e no final da noite, fecharam o show do popstar. Veja um trechinho do show enviado ao TeatrineTV:
Na terça (25.abr.23), o Brô MC's passou o dia com o rapper carioca Xamã no ATL, ocasião em que o apresentaram o movimento, parentes, fizeram rimas e interações extrovertidas partilhadas no Instagram. Veja abaixo:
A ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara e a 1ª Deputada Federal indígena eleita pelo PSOL de Minas Gerais, Célia Xakriabá, também foram vistas em vídeo nos bastidores com o Brô MC's e Xamã.
Xamã, que se autodeclarou afro-indígena, conheceu o Brô MC's e os convidou para dividir o palco Sunset na última edição do festival Rock´n Rio, em setembro de 2022. A parceria rendeu uma amizade entre o carioca e os sul-mato-grossenses.
Na 4ª.feira (26.abr), o grupo comandou o palco e dessa vez o Brô MC's trouxe Xamã como convidado especial. "Com certeza, acho que o convívio que a gente teve aqui, essa aqui é nossa terceira ATL, né galera? Como o Xamã convidou nós para o Rock'n Rio, a gente trouxe ele para o ATL também. Essa conexão, da nossa ancestralidade. Acho que tudo isso conecta a gente. Agora, a gente convidou ele para ir no Mato Grosso do Sul, lá na nossa aldeia, que é a aldeia Jaguapiru e Bororó e é isso, cara, conecta a gente... Eu acredito, assim, no Nhanderu Guassu, que ele vai abrir nossos caminhos e logo, logo, vai estar rolando música nova aí com o Xamã", disse Bruno Vn, um dos integrantes do Brô MC's, em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia.
O rapper carioca celebrou a amizade com os sul-mato-grossense e falou sobre sua experiência no 1º ATL. "Hoje a gente está vivendo um momento muito importante, né? De valorização dos povos indígenas, que é uma coisa que já deveria estar acontecendo há muito tempo e de poder estar unindo todos os povos também. E por estar conhecendo também, estou vindo pela primeira vez, com amigos como o Brô MC's, que eu me apresentei com eles no Rock'n Rio, como o Txepo [Suruí, rapper indígena rondoniense] que eu conheci com o Rap também... E acho que essa conexão está acontecendo justamente porque o ATL consegue conectar ainda mais pessoas de outros estados, tipo, pessoas que vem do Rio, que vem de São Paulo, que vem da Amazônia, que vem do Rio Grande do Sul, está ligado? Poder conectar todos os povos aqui", explicou Xamã em entrevista à Rádio.
Outro integrante do Brô MC's, Tio Creb, disse que um convite direto foi feito ao Xamã, para ele ir conhecer as aldeias onde vivem os integrantes da banda de rap sul-mato-grossense, próximo a Dourados. "Então, a gente fez esse convite para ele hoje e ele super-topou de estar lá com a família Brô MC's, conhecendo os Guarani Kaiowá, conhecendo Mato Grosso do Sul, ia ser muito bacana, porque o Brô MC's, tem essa grande força de parceria, de sua ancestralidade, tipo, chama a gente, né? Isso é muito bacana, de estar levando a nossa música, a nossa língua, né? Tipo o Xamã, conheceu a gente e hoje a gente está aí trocando ideias, para trocar uns feat também", opinou.
Para outro integrante do Brô, a ATL é um espaço de os artistas indígenas mostrarem suas produções em prol da causa.
"É uma luta que a gente vem lutando desde que começou a ATL. E essa nossa luta é para mostrar, a gente sabe o que aconteceu no Brasil, né? E como dizem os nossos parentes, né? A luta para nós nunca acaba, todo dia é uma luta. Para nós indígenas é todos os dias. É extremamente importante trazer reflexões sobre o que está acontecendo com os indígenas na atualidade. Isso a gente debate muito aqui no ATL. E é de suma importância trazer os artistas para estarem mostrando a sua luta, não na sua retomada, não nos locais, mas a gente traz as nossas lutas em cima dos palcos, também mostrado esse protestos e mostramos acontecimentos que acontecem com nossa comunidade. A ATL é uma grande reunião, para não dizer Aty Guasu, porque é onde todos os povos se reúnem. Isso é bacana porque a gente acaba tendo essa troca de cultura mesmo", completou outro integrante.
O ATL 2023
De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) — organizadora do evento — são esperados mais de 6 mil indígenas na capital federal para 30 atividades.
O tema deste ano é "O futuro indígena é hoje. Sem demarcação, não há democracia!", subdividido em 5 eixos: “Diga o Povo que Avance”, “Aldear a Política”, “Demarcação Já”, “Emergência Indígena” e “Avançaremos”. Esses, avançam com debates sobre gestão territorial e ambiental, acesso a políticas públicas, parentes LGBT+, mulheres indígenas e indígenas em isolamento voluntário.
Além dos encontros, o acampamento promoveu 3 marchas pelas ruas de 24 a 27 de abril.
O QUE COBRAM NO ATL?
O ATL existe desde a ocupação de indígenas do sul do Brasil, na frente do Ministério da Justiça, em 2004. Neste ano, o foco é resgatar o tópico da demarcação de terras indígenas, estagnado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e reivindicar o fim das violências contra povos indígenas e o decreto de “Emergência Climática”.
“Foi um retrocesso de direitos. Os nossos territórios sendo invadidos por pistoleiros, jagunços, onde há uma área de retomada. E, hoje, temos, à nossa frente, um ministério, para que possamos nos sentir, de certa forma, abraçados, em relação aos nossos territórios, porque a principal demanda do movimento indígena é a questão da territorialidade mesmo, é a demarcação, o reconhecimento das nossas terras e o respeito ao modo de vida que queremos ter nos nossos territórios”, disse Val Eloy Terena, coordenadora executiva da Apib.
Durante o governo de transição, a entidade participou do Grupo de Trabalho sobre Povos Indígenas. A fim de firmar seu compromisso com a causa, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou 13 territórios prontos para serem homologados. De acordo com a Apib, também existem 200 terras indígenas esperando demarcação pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).