O duo sul-mato-grossense Vozmecê, composto por Pedro Fattori e Namaria Schneider, lançou no dia 26 de março de 2025 o clipe da música "Tio Sam", disponível no YouTube. E nesta sexta-feira (28.mar), o duo leva a música para o palco, com um show marcado para as 18h na Praça do Rádio, integrando a programação do Campão Cultural, em Campo Grande (MS).
A letra de "Tio Sam", composta por Fattori, promove uma reflexão sobre o imperialismo cultural e político dos Estados Unidos, usando a figura do "Tio Sam" como uma metáfora para o poder e a influência dos EUA sobre o Brasil e outros países do mundo. "Se o Tio Sam toca pandeiro, todo mundo samba / Mas se o Tio Sam saca uma arma, o mundo inteiro grita", diz o primeiro verso da canção.

De acordo com o compositor, a música foi escrita em 2020, sendo uma das primeiras do duo. "Eu compus ela e foi lançada já faz uns cinco anos. Então é uma música que demorou bastante para conseguir ter um clipe", explicou Pedro Fattori. Ele ainda destacou que a canção foi gravada de forma independente, sem nenhum incentivo. "Gravamos ela junto com o projeto Casulo. A gravação foi toda feita no improviso, a gente gravou as vozes dentro da van, na rua, e tudo foi bem independente", lembrou.
O ENVOLVIMENTO COM O PROJETO CASULO

A música, que mistura samba com arranjos que remetem aos rasqueados fronteiriços, surgiu graças à parceria com o Projeto Casulo. "Foi uma grande realização. Quando vimos o Casulo no palco pela primeira vez, foi amor à primeira vista. Trabalhar com eles foi uma experiência única, foi como estar em casa", comentou Namaria Schneider.
O Projeto Casulo, banda campo-grandense formada em 2017, encerrou suas atividades em dezembro de 2023, mas reuniu-se especialmente para gravar o clipe de 'Tio Sam'. "Quando o Casulo deu um tempo, ficamos tristes, pois éramos fãs deles. Mas vê-los de volta no palco, gravando com a gente, foi uma experiência de esperança, de ver os amigos de volta ao que faziam de melhor", disse Namaria.
CENSURA DA HAVAN NA CAPITAL DE MS

No videoclipe, há uma cena emblemática que foi filmada em frente a uma unidade da Havan, onde a equipe foi expulsa pelos seguranças. "Foi uma situação interessante, porque nós queríamos utilizar a Estátua da Liberdade como um símbolo do poder hegemônico dos EUA, que tem forte representação cultural. Quando estávamos gravando na frente da loja, a segurança nos abordou e pediu para parar", contou Fattori.
Ironicamente, o ícone da extrema direita, dono da rede de lojas Havan, Luciano Hang, se vende como grande defensor da liberdade. "Eles alegaram que não poderíamos usar a imagem da loja, mas nossa intenção era justamente usar a Estátua da Liberdade como metáfora da influência norte-americana", salientou o artista.
Apesar da proibição, no clipe há as imagens da estátua ao fundo de uma cena interpretada pelo multiartista Breno Moroni. "Felizmente, já tínhamos capturado as imagens, então seguimos com o projeto sem maiores problemas. Essa cena no clipe é simbólica, pois queremos questionar a subordinação cultural que muitos países, inclusive o Brasil, têm em relação aos EUA", reafirmou Fattori.
IMPACTO DA LEI PAULO GUSTAVO

Ao ser questionado sobre a relação entre o processo criativo e a execução do videoclipe, Pedro revelou que a ideia da letra já estava intrinsecamente ligada ao conceito visual. Na música, explicou Fattori, "O 'Tio Sam' é um personagem que chega em um bar e quer roubar a cena, conquistando a moça que representa o Brasil".
A produção do videoclipe só se tornou realidade graças aos recursos enviados pelo Ministério da Cultura (MinC) ao estado, por meio da Lei Paulo Gustavo. "Quando surgiu a Lei Paulo Gustavo, que tinha 50% do fomento voltado para o audiovisual, eu vi a oportunidade de realizar esse clipe, que já estava guardado há tanto tempo", contou Pedro. Ele ressaltou que, graças ao incentivo, o duo conseguiu realizar o projeto na íntegra, até incluindo mais cenas do que o inicialmente planejado.

Para Namaria Schneider, a Lei Paulo Gustavo foi crucial para a realização do videoclipe. "Ela foi completamente decisiva para a gente conseguir fazer diversas produções no ano de 2024 e 2025. Foi essencial para que a gente conseguisse fazer o clipe depois de cinco anos do lançamento da música", reforçou a artista, que também atua como produtora executiva do duo.
Namaria completou ainda que o recurso permitiu transformar uma vontade em realidade. "Graças ao recurso, conseguimos viajar para gravar em cidades e contratar os artistas que participam do clipe. O valor foi o suficiente para conseguirmos realizar tudo o que desejávamos, e até mais. A Lei Paulo Gustavo também possibilitou a gravação do nosso primeiro álbum, algo que, sem esse apoio, levaria mais tempo", afirmou.
SHOW NO CAMPÃO CULTURAL

O Vozmecê se prepara para um show especial no Festival Campão Cultural, no dia 28 de março. "Quem for pode esperar uma apresentação cheia de energia, dedicação e muita verdade. Vamos ter uma banda completa, diversas participações especiais e até uma nova performance de 'Tio Sam'. Será um show muito enérgico, comemorando o lançamento do clipe, mas também trazendo músicas do nosso álbum Tropica Polka, que é bem recente", garantiu Namaria.
Ela ainda destacou que o show refletirá o momento artístico e pessoal do grupo. "Cada vez que tocamos, sentimos que o álbum está alinhado com quem somos como artistas. Para nós, isso é uma preciosidade. Vai ser um show com muita vivacidade, muita genuinidade, muita energia uma verdadeira entrega no palco", completou.
REFLEXÃO CULTURAL E POLÍTICA

Ao analisar a letra de "Tio Sam" em relação à ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos, podemos perceber uma crítica implícita aos modos de operação da política externa americana durante o período em que Trump esteve no poder, com ênfase nas tensões globais, na agressividade de suas políticas e na utilização de símbolos de autoridade e força.
Há cinco anos, Fattori já refletia, por meio de metáforas, sobre o comportamento do povo brasileiro e a hegemonia dos Estados Unidos. "A música busca refletir sobre nossos modos de consumo e sobre o imperialismo norte-americano nos nossos modos de vida e nas influências culturais que os EUA exercem sobre o Brasil. Não é simples e não é à toa o modo como consumimos a cultura norte-americana, desde filmes até música", comentou Fattori.
Para Pedro Fattori, o objetivo de "Tio Sam" vai além da música. "O objetivo é político, de levar a reflexão sobre o consumo consciente da nossa cultura. Queremos questionar o quanto o poder hegemônico dos Estados Unidos impacta nossas vidas, nossas escolhas culturais e políticas. Não se trata de negar a qualidade técnica das produções estrangeiras, mas de repensar o que estamos consumindo e qual tipo de cultura queremos reforçar em nossa identidade", finalizou.
FICHA TÉCNICA
Atuação Cênica:
Breno Moroni e Isabela Lopes
Composição e Letra:
Pedro Fattori
Produção Musical, Arranjos, Edição, Mixagem e Masterização:
Pedro Fattori
Vozes:
Namaria Schneider, Pedro Fattori, Kalélo e Nino Rodrigues
Instrumentação:
Trompete: Gustavo Gauto
Bateria: Alejandro Lasso
Percussões: Julián Vargas
Guitarra: Lucas Rabelo
Baixo: Ricardo Lourenço
Violão: Pedro Fattori
Captação de Vídeo:
Manu Komiyama, Pedro Fattori e Namaria Schneider
Roteirização:
Pedro Fattori e Namaria Schneider
Edição de Vídeo:
Pedro Fattori e Namaria Schneider
Assistente de Produção:
Jessika Rabelo
Interpretação em LIBRAS:
Jessé Macedo
Locais de Gravação:
Onça Bar Campo Grande, MS
Rio Verde, MS
Bodoquena, MS
Corumbá, MS
Apoio:
Onça Bar
Lei Paulo Gustavo
SETESC
Governo Federal
Ministério da Cultura
Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul
SERVIÇO
Lançamento do Videoclipe "Tio Sam" (assista no topo).
- Show no Festival Campão Cultural
- Data: 28 de março de 2025
- Horário: A partir das 18h
- Local: Praça do Rádio, Campo Grande (MS)
- Entrada: Gratuita