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'LAS PROMESSERAS'

Resposta à guerra, Toro Candil é tema de filme no Pantanal Film Fest

O maior festival de Toro artístico-cultural realizado no Centro-Oeste

Por TERO QUEIROZ • 24/03/2025 • 16:40
Imagem principal Festival de Rua de Porto Murtinho do Toro Candil é tema de filme exibido na Capital. Foto: Reprodução

O Festival do Touro Candil é o tema do documentário "Las Promesseras" (16 min), dirigido por Mara Silvestre. A exibição ocorrerá na 3ª.feira (25.mar.25), às 18h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), durante o Pantanal Film Fest, que acontece em Campo Grande de 24 de março a 5 de abril.

A atividade cultural é o maior festival de Toro artístico-cultural realizado no Centro-Oeste. A festividade se assemelha ao Boi-Bumbá de Parintins, no Amazonas, mas com base mais na fé, tradição e como uma resposta aos efeitos da guerra.  

Segundo a diretora do documentário e coordenadora do festival, Mara Silvestre, a festa do Toro teve início há cerca de 60 anos, após a guerra no Paraguai, quando famílias se estabeleceram em Porto Murtinho, no sudoeste de MS. "Essas famílias, compostas principalmente por mulheres e filhos, tiveram que se sustentar com trabalho árduo, enquanto muitos homens haviam morrido ou estavam ausentes", introduziu. 

Mara Silvestre. Foto: Leandro Benites Mara Silvestre. Foto: Reprodução

Pelo relato histórico, uma mãe de família montou altares simples em sua casa, como forma de agradecimento, e outras repetiram o ato. "Essas mulheres criaram altares únicos, com o teto se unindo ao chão, formando um triângulo, que representava a união da fé e da esperança, em agradecimento por sustento, trabalho, moradia e educação para seus filhos", explicou Mara.

Mas o festival não é resultado da violência do conflito, é pelo contrário, um grito pela paz e união, com raízes na tradição paraguaia da celebração da fartura. Após seu surgimento, inicialmente, a festa passou a ser realizada a cada sete anos. "Todos participavam com entusiasmo na Casa das Promesseras do Touro Candil, onde a celebração se estendia até as primeiras horas da madrugada"", contou Mara.  

A festa também simboliza a resistência cultural dos povos locais. A estrutura do evento, feita com bambu, madeira e a carcaça de uma cabeça de boi decorada com pinturas ancestrais, é um reflexo da luta e preservação cultural dos grupos que formam a comunidade de Porto Murtinho. "Durante o evento, descendentes de quilombolas, indígenas, paraguaios e outros grupos culturais se reúnem, vestindo-se com roupas coloridas, chapéus e pintando seus rostos", detalhou a diretora.

RENASCIMENTO DO FESTIVAL

Após um período de desmobilização, o festival foi revivido em 2015 com a criação do Festival de Rua de Porto Murtinho. Para Mara, "o festival tem trazido a cidade de volta à sua tradição, fortalecendo o laço da comunidade com suas raízes culturais e religiosas". Ela relembra sua infância dividida entre Porto Murtinho e Assunção e fala das mulheres que, com fé e esperança, sempre a impressionaram: "As mulheres, as 'promiseiras', sempre me impressionaram com seus olhos cheios de fé e esperança. Hoje, elas são as protagonistas dessa festa, que é uma verdadeira expressão de fé e resistência".

 

O evento mescla religiosidade e folclore, homenageando Nossa Senhora de Caacupê, padroeira do Paraguai, e encenando a disputa entre dois touros – Bandido e Encantado – que reivindicam a paternidade do lendário Touro Candil. O espetáculo conta com a participação de jovens da comunidade, que se envolvem na produção artística e na performance teatral, reforçando a valorização da cultura regional.

Pesquisadores destacam a importância da festa na preservação do patrimônio cultural imaterial e no fortalecimento da memória coletiva da população fronteiriça. Além do valor simbólico, a celebração impulsiona o turismo e a economia local. Em reconhecimento ao seu impacto cultural, a representação do Touro Candil já participou de eventos nacionais, como o Salão Internacional de Turismo em São Paulo.

'LAS PROMESSERAS'

Com intuito de apresentar a festa do Toro Candial ao Brasil e ao mundo, mirando a preservação do festejo que acontece agora anualmente de 7 a 8 de dezembro, Mara idealizou a produção do documentário "Las Promesseras". "Este é um evento que simboliza o encontro das culturas, trazendo esperança e fortalecendo a fé, não apenas em Porto Murtinho, mas em todo o Brasil", sustentou Mara.

O documentário foi filmado entre 2015 e 2018 e apresenta a devoção e a força das mulheres que mantêm a festa viva, destacando o papel fundamental dessas mulheres na preservação da tradição.

PATRIMÔNIO IMATERIAL

A intenção, segundo a diretora, é que a festa se torne um Patrimônio Cultural Imaterial da Rota Bioceânica, que coloca Porto Murtinho parte central da Rota.  

Pesquisadores como Maria Augusta de Castilho e Nívea Maria Mendes de Paiva analisam a festa como um exemplo de patrimônio cultural imaterial que reforça a memória coletiva da população fronteiriça. Teóricos como Maurice Halbwachs e Zilda Kessel destacam o papel da memória na construção da identidade local. Já o geógrafo Claude Raffestin e a pesquisadora Hélènemarie Dias Fernandes apontam a festa como um fenômeno de territorialidade e desenvolvimento local.

PROPOSTA LEGISLATIVA

Mostramos aqui no TeatrineTV, que o deputado estadual Zeca do PT apresentou um Projeto de Decreto Legislativo que visa declarar a festa tradicional do Toro Candil como patrimônio imaterial e cultural do estado de Mato Grosso do Sul.

SERVIÇO

 

O que: Exibição do documentário Las Promesseras no MIS, parte do Pantanal Film Fest.

Quando: 18h, em 25 de março de 2025.

Onde: Museu da Imagem e do Som (MIS), Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, 3º andar, Campo Grande.

Entrada: Gratuita.

Por quê: O filme integra a programação do Pantanal Film Fest, no contexto do Campão Cultural.


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Tags: Mara Silvestre, Mascaritas, Porto Murtinho

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