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DESVER

Preparadora de elenco global conduz workshop para atores em MS

Maria Beta ministrou intensivo 'O Ator na Câmera e no Mundo' no festival da UFMS

Por TERO QUEIROZ • 04/10/2024 • 23:05
Imagem principal Parte dos integrantes do Workshop com Maria Beta em Campo Grande. Foto: Desver

Maria Beta Perez, uma das preparadoras de elenco mais requisitadas do Brasil, ministrou o workshop intensivo “O Ator na Câmera e no Mundo” em Campo Grande (MS) nos dias 2 e 3 de setembro.

A formação foi oferecida gratuitamente no Auditório Luis Felipe de Oliveira, no Teatro da Música da UFMS, e contou com a participação de 20 artistas selecionados.

A atividade fez parte da programação do Festival Universitário Desver, que começou no dia 2 e encerrou-se nesta 6ª feira (4.set) na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e no Museu da Imagem e do Som (MIS). 

Em mais de 9 horas de encontro, a preparadora tirou dúvidas, ofereceu técnicas e bibliografias, e detalhou os principais pontos do trabalho na preparação de elenco, tanto de artistas renomados, como Bárbara Reis (protagonista da novela Terra e Paixão), quanto de atores em início de carreira.

Marcelo Henrique, de 21 anos, estudante de Audiovisual na UFMS, compartilhou sua experiência ao integar o workshop. “Eu venho do teatro, né? Sou formado pela Casa de Ensaio e, inclusive, atuo lá ultimamente, fazendo parte da Cia Aves Extraviadas. Tudo dentro do teatro, né? A experiência com audiovisual chegou para mim dentro da faculdade, na produção, mas eu também experimento esse rolê na frente da câmera, na atuação em si. Estar aqui hoje, com a preparadora de elenco, foi sensacional. É sensacional, porque a gente que é ator de teatro sente essa diferença. Embora seja o mesmo mundo, elas diferem”, disse.

“Exatamente o que a Beta falou aqui no curso e tudo mais: os diretores e tudo mais pensam na atuação de teatro como uma atuação over, enquanto a atuação de cinema é aquela atuação mais simples, mas a gente aprende que muitas vezes não. Que a gente pode sim imprimir ambas as estéticas e seguir a partir daí.  Tudo depende da proposta do diretor e do roteiro. Então, eu acho que foi uma experiência incrível, foi uma experiência, assim, enriquecedora”.

Marcelo pediu que haja mais ações semelhantes focado na preparação do ator. “Estou levando muitas coisas, espero que, inclusive, que tenha mais! Porque Campo Grande carece, precisa de mais movimentação artística, principalmente dentro do cinema e do audiovisual, e juntar isso, a preparação de elenco com a direção ali, trabalhar tudo isso dentro de sala, foi incrível isso”, declarou. 

Outra integrante da oficina, Luiza Estulano, de 19 anos, também estudante de audiovisual, disse que conseguiu fazer uma imersão. “A gente conseguiu entrar mais profundo nos sentimentos e tudo mais, se dá um pouquinho melhor na prática. A pessoa que conduziu também é fantástica. O jeito dela de conduzir, ela fala muito bem; eu gostei bastante dessa oficina”, pontuou.

Questionada sobre a parte do workshop que mais a impactou, Estulano destacou: “Olha, a parte que eu achei mais interessante é o que ela falou da questão do cuidado do diretor com o ator ou atriz, que eu acho muito importante. Eu gosto muito de pensar que quero ter um ambiente mais agradável no set. Eu acho que vou tentar estudar isso um pouquinho melhor, de como trabalhar de uma forma mais fluida. Isso, de uma forma mais didática, uma forma mais interessante entre o diretor e o ator, de fato, é tratar não como só um objeto de cena, mas como a pessoa em si. Também levar um pouquinho dessas ideias da direção; não é apenas direção de ator, é também, né, para dentro da direção em si no momento que está gravando. Eu acho que é interessante tentar entender um pouquinho melhor o lado do ator”, avaliou. 

CONTRIBUIÇÕES PARA O AUDIOVISUAL SUL-MATO-GROSSENSE

O ator Fabio Umeda, de 23 anos, considerou que o workshop chegou num momento crucial para o audiovisual sul-mato-grossense. “É de suma importância, principalmente agora, num momento assim. A LPG deu uma aquecida agora no mercado audiovisual. O curso de audiovisual da UFMS ainda é muito recente. Antes, era o pessoal do jornalismo; quem gostava de audiovisual ia para o jornalismo. E agora que está começando a se desenvolver, que a gente está engatando, a cena está ficando massa, está ficando legal. E tem tido algumas iniciativas de trazer”, celebrou.

Umeda argumentou que o workshop complementou formações que ele havia feito com Luciana Martuchelli. “E eu acho assim: precisa prever para ter uma continuidade e para a gente ter mais tempo de trabalho. Eu acho que isso é muito importante. Trazer essas pessoas para cá, para a gente trocar com os atores daqui e com as pessoas aqui do curso, esse núcleo é muito bacana para a gente poder se desenvolver mesmo, fortalecer a cena daqui cara, pra ser um polo cultural mesmo”, disse.

O integrante do workshop considerou que a prática com Maria Beta foi inovadora. “Tem muita coisa sensível. Tipo, são alunos, autores que eu já tinha visto alguma vez, sabe? Mas assim, na prática, é tão quente, é tão pronto, é tão na hora que você não tem tempo para pensar. Você não tem tempo para passar com todos aqueles filtros. Eu que costumo ser muito intelectual, assim, quando estou fazendo. Então eu acho que eu ganhei muito nessa questão de estar ali. A gente repetia muito as frases do texto. Ela usava uns métodos que eu até nunca tinha visto e que funcionaram muito, assim, durante a... para a gente atingir o que a gente precisa na cena. Então isso, para mim, ficou bem latente”. 

RETORNO INSPIRADOR

Maria Beta durante workshop intensivo para artistas em Campo Grande (MS). Foto: DesverMaria Beta durante workshop intensivo para artistas em Campo Grande (MS). Foto: Desver

Maria Beta externou ao TeatrineTV sua satisfação ao retornar ao estado, já que passou uma temporada filmando a novela Terra & Paixão da TV Globo, nos arredores de Dourados (MS). “Nossa, eu fiquei muito feliz. Eu sempre tive vontade de voltar e eu sempre tive vontade de conhecer os artistas daqui, de ficar um pouco mais aqui e de conhecer, porque assim, é isso: a gente fica naquele eixo Rio-São Paulo, um pouco de Minas, e eu tenho até uma aluna de Cuiabá, online. É bom esse trabalho online porque eu posso conhecer pessoas do Brasil inteiro, mas eu estava muito a fim de chegar aqui, de entrar em contato com esses artistas, e foi um grande presente estar aqui”, pontuou.

Maria revelou que ficou impressionada com diversidade de pessoas interessadas no Workshop organizado pela faculdade de audiovisual. “Dentro de um festival de cinema universitário, onde as pessoas são interessadíssimas no assunto. Eu gosto muito de ter jovens interessados em todas as áreas, sabe? Tipo, não só da atuação. Então, tinha gente também interessada em fotografia, em direção, em roteiro, e todo mundo com muita disponibilidade de deixar passar pelo corpo essa experiência da preparação de elenco. Assim, eu pude tirar algumas dúvidas de como o processo funciona, mas também pude conhecer como as coisas funcionam aqui”, explicou.

Apesar da grata surpresa, a atriz e preparadora também pode no período que passou na cidade reafirmar algumas observações acerca do estado e do lugar da arte em MS. “Eu sigo considerando um estado muito conservador, assim, então percebo que ainda é difícil. Sinto que falta de mais espaço para a arte; ouço também os artistas daqui falando isso, então só posso acreditar que é verdade”.

INVESTIMENTO NA ARTE

Maria Beta disse que há muitas perdas quando o estado não reconhece a grande dos seus artistas. “Lamento muito, assim, porque percebo que tem grandes histórias aqui acontecendo, sabe? E fico com muita vontade de conhecer mais. Fiquei com vontade de ficar aqui assistindo às festas. A gente ontem assistiu alguns curtas também, com o pessoal daqui e do resto do Brasil, né? Nesse festival. E a minha experiência foi muito boa, muito interessante, assim. Percebo que tem atores também que misturam teatro, circo e que estão fazendo um monte de coisas. E fico com vontade que mais pessoas conheçam vocês”. 

A preparadora elogiou a curadoria dos curtas que estão sendo exibidos no festival Desver e destacou a importância da ação cultural. “Nossa, ontem quando eu fui assistir aos curtas, eu fiquei pensando muito sobre isso, sabe? Primeiro, porque os curtas tinham do Brasil inteiro. E acho que tinha também de outros países latinos. E ver como essa troca é importante, assim, né? Então, como é que a gente deixa de ver, de conhecer e de trocar? Também por falta de investimento. Aliás, principalmente por falta de investimento. Esse festival, assim, eu não conhecia e fiquei encantada. Primeiro, pela disponibilidade dos alunos, que fazem tudo: produção, blá, blá, blá. E é isso, com as referências que eles têm e tudo mais”.

A preparado exaltou ainda que além de preparação o festival Desver oportunizou uma oficina de direção, setores do audiovisual que tem um diálogo direto no set.

Maria Beta apelou que o Festival Desver receba mais apoio a cada ano, e que haja mais investimentos no audiovisual sul-mato-grossense que ela acredita ainda ser pouco. “Nós, sudestinos, ainda achamos pouco. Imagina vocês. Então, eu lamento muito que não compreendam que arte e cultura são sinal de saúde também. Isso é saúde. Isso faz parte da saúde, né? Então, eu lamento que o investimento seja tão curto, que a gente ainda tenha esse pensamento. Mas ao mesmo tempo muito admirada disso aqui, da resiliência, da vontade desses artistas e professores de fazerem esse festival”, completou.

“DESVER SÓ ACONTECEU DEVIDO A LPG”

Na entrada de uma sessão da Mostra Competitiva de Curtas Internacionais, o professor Régis Orlando Razia, que dá aula de pós-produção no curso de audiovisual – ensinado montagem, edição, pós-produção, animação – celebrou o momento único do festival Desver com a presença de Maria Beta e do homenageado e oficineiro Ardirlei Queiroz. 

“Essa oficina da Maria Berta vem com uma demanda dos alunos, que é uma relação da interação entre diretor e ator. A gente tem um curso aqui, o da UEMES, que trabalha a relação da arte dramática, e a dança também, que é uma outra ciência. O ator é uma, digamos assim, uma ciência plena dentro do campo das artes dramáticas”, explicou Razia. 

Segundo o professor, a ciência da atuação trata de um campo das artes que em Campo Grande carece de oportunidades de formação. “Então essa oficina, ela surge, né, pensar a Maria Berta, vem de uma demanda dos alunos. Muitas das coisas que vocês estão vendo aqui hoje são uma demanda de aluno. É o aluno que sente uma necessidade, porque assim, de novo, a gente não tem como trabalhar o ator em um campo de cinema. A gente trabalha a relação do diretor com o ator”. 

Razia explicou que na oficina da Maria Berta havia vários atores que já fizeram curtas, com os TCCs, na UFMS. “Então são atores que já, de alguma maneira, circularam aqui. Nós, como campo-grandense, nós como curso de audiovisual, começamos a tentar interpelar, relacionar com esses outros campos. O campo da atuação, sobretudo. Então a Maria Berta vem disso. Exatamente. Uma demanda que surge dessa relação entre os alunos”.

Um dos pontos chaves a oficina, para Razia, é o destaque que Maria Beta deu a situação ética no set. “Ela é gigante. Abordou o quanto é importante a gente falar muito dessas relações, de posições éticas. Pouco que eu ouvi lá, eu fiquei um pouquinho com a Maria Beta. Posição ética da relação do corpo da câmera. A relação entre diretor e ator é sempre, é uma relação. Sim. E, às vezes, essa relação pode ser de negociação, mas também de perturbações, né? Eu acho que é fundamental nesse sentido”.

De acordo com o professor, essa edição do Desver ocorreu com esse alcance, devido ao apoio da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura (MinC). “Os outros, eu não tinha essa verba. Tampouco tinha o mínimo para poder fazer, pra poder chamar alguém fora. A gente está com 14 realizadores aqui. Que vieram de todo o Brasil, cara. Hoje você vai ouvir ali sotaques diferentes. Então, a gente tá trazendo realizadores que tão fazendo filmes universitários. Muito de igual para a igual. Não é filme recheado com tudo de grana. A gente está falando de filmes de igual pra igual. Filmes possíveis. Não são filmes de muita grana”.

Na avaliação do professor, ao investir em ações culturais como Festival Desver, a cidade obter ganhos. “Está fazendo girar uma economia, está colocando uma economia no mercado, está trazendo um grupo de pessoas para ampliar um pouco esse campo cultural de Campo Grande. Entendeu? Então, assim, esse é o ponto principal. Manter isso aí é uma outra história para um outro cor do sol. No sentido de que a gente vai ter que verificar viabilidades. As leis de incentivo tão aí, né? Mas aí eu acho que o mérito desse Desver agora. O que você viu, o que você vai ver é o mesmo da Lei Paulo Gustavo. E, lógico, do próprio corpo acadêmico aqui. Isso aqui são os professores e os alunos que tão fazendo, cara. Você pode ver. Isso aqui é tudo aluno. É tudo aluno. É aluno protagonista. É aluno que faz a curadoria”. 

O momento do festival para os alunos serve também como um laboratório. “Para pensar um pouco o que é organizar esse espaço cultural. Uma cena cultural tão legal que vem rolando. Então, é basicamente isso. Aqui é fruto um pouco desse empenho. É um fruto também da própria relação que a universidade nos proporciona. Também de pegar e fazer com que esse espaço seja movimentado pela comunidade campo-grandense. Você vai ver algum percentual de alunos, percentual de pessoas que vieram de fora, mas também um percentual da comunidade campo-grandense que vem chegando. Você mesmo. Você é fruto disso. Você tem um jornal muito massa. É um jornal que, de longe, é um jornal que traz questões bem específicas, assim, para falar um pouco dessa cena. Que, às vezes, impõe desafios, né?”.

O CINEASTA HOMENAGEADO

O cineasta brasiliense Adirley Queirós foi homenageado e ministrou oficinas no Festival Desver 2024. Foto: DesverO cineasta brasiliense Adirley Queirós foi homenageado e ministrou oficinas no Festival Desver 2024. Foto: Desver

Na sua avaliação de educador, Razia acredita que festival pode impactar os corpos e mentes, principalmente apresentando referencias possível, como o homenageado e oficineiro Adirley Queirós. 

“Cara, o Adirley é um realizador, é um ex-jogador de futebol que faz filmes na Ceilândia, uma cidade satélite, Brasília. Cidade que é, curiosamente, uma periferia desse centro insípido chamado Brasília, né? Então, e o Adilei é curioso que ele faz filmes lá e segue fazendo filmes lá. Ele resiste, persiste e insiste nessa produção. E ele está fazendo um filme que é muito do corpo a corpo com a periferia. Mas não é o outro falando desse outro periférico. É o mesmo falando da dimensão da periferia. O Adirley tem uma escolha muito clara, assim, que é sobre uma posição política e que é filmar e de fazer filmes. Que não é fazer filmes dentro de um escopo da grana, de um cinema que é caro, pesado, que tem aquela parafernália toda. O Adirley está falando de um tipo de cinema que é, não simples, mas é um cinema que é possível”.

Razia pontuou o cinema produzido por Adirley é mais leve no sentido de o que significa empunhar uma câmera, filmar e colocar os corpos para atuar nesse sentido. “E é um cinema que simplifica, ao invés de complicar. É um cinema como trabalho também, mas ao mesmo tempo eu acho que é uma posição política. Adirley é uma figura hoje como um dos grandes realizadores do cinema brasileiro. Eu falo isso pela circunstância. Tem muitos festivais que os filmes dele foram. Ele mesmo falou dessa cadeia de acontecimentos e da carreira dele com os festivais também. Mas o mais interessante é isso, cara. Porque a gente está olhando para um diretor que cria provocações no próprio modo de filmar, no próprio modo de fazer filmes. Fazer filmes, por exemplo, tem um pouco essa dimensão que também é política. Filmar os seus pares, mas também filmar os outros que são tão diferentes dele”.

A escolha do cineasta brasilense também, segundo o professor, é uma maneira de olhar para os grandes realizadores do Centro-Oeste brasileiro. “É diferente de você pensar, vamos fazer filme em São Paulo, Rio. São Paulo e Rio, meu? Rio é de dinheiro, assim. Tem, as coisas estão acontecendo lá. É o umbigo do Brasil. Onde tem as políticas públicas, mas também é um centro econômico. O Centro Oeste é outra coisa. E ele é, assim, Brasília, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. A gente tem algumas questões que são muito parecidas. Daquilo que significa fazer cinema no Brasil. E aí eu acho que a gente está dialogando, não de igual para igual, mas a gente está dialogando com algumas inquietações que são semelhantes”.

Nesse Desver, a oficina de Adirley de Direção Cinematográfica foi um momento ímpar, o que para o professor prova a capacidade de diálogo mais fluído entre realizadores do Centro Oeste. “Nosso cinema passa também pelas inquietações do Adirley. Então eu sinto um pouco que esse é o caminho das pedras. Quando a gente começa a olhar para a figura dele. O cara foi uma decisão a mais acertada possível. Ele conseguiu dialogar com o público. Imagina, ele fez uma masterclass em duas oficinas. E não esgotou o papo. Todos os dias passou 30, 40 minutos de conversa, todos os alunos ao redor dele. Porque ele realmente é uma figura que coloca essas provocações no cinema possível. Esse cinema que não é um cinema difícil”, concluiu. 


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