O curta-metragem A Medalha do Meu Avô estreia na segunda-feira (24.mar.25), no Museu da Imagem e do Som (MIS), em Campo Grande (MS).
Dirigido por Renan Braga, a produção mescla ficção e documentário para contar uma história que atravessa gerações e os ecos da Guerra Fria relacionados à família do próprio diretor.
A exibição acontece às 18h, com entrada gratuita, seguida de debate com o diretor.
No elenco está o avô de Braga, o Sargento da Reserva Cézar Glauco dos Santos Braga, de 90 anos e Amarilis, de 8 anos, filha do diretor.

O enredo do documentário-ficcional apresenta um olhar íntimo sobre um capítulo pouco conhecido da história sul-americana, ao mesmo tempo em que revela um passado familiar.
Em resumo, o curta de 17 minutos segue uma menina de oito anos que, durante uma queda de energia, explora fotos antigas na casa do avô. Ao encontrar uma foto dele jovem, o bisavô revela ser o militar da imagem e compartilha a história da Medalha do Pacificador com Palma, conquistada em 1965, após liderar uma operação secreta na fronteira Brasil-Paraguai.
Em entrevista ao TeatrineTV, o diretor contou que sua filha representa um papel que ele mesmo viveu na infância. “Eu também fui essa criança que, aos 8 anos de idade, ouvia essas mesmas histórias do meu avô. E gostava de sentar com ele para ouvir essas histórias! Às vezes mais pela performance que ele imprimia ao narrar do que pelo conteúdo. O conteúdo eu só vim entender muitos anos depois”, disse.
FILME EM FAMÍLIA

Ao escalar a filha para protagonizar o curta, ele precisou superar desafios junto a equipe de figurino. “O maior desafio, na verdade, foi convencer a Amarilis a fazer o filme com uniforme da escola. Ela não queria. Queria colocar um vestido lindo. Gastei um bom tempo explicando para ela que não era esse tipo de filme. Ela entendeu, mas me fez prometer que no próximo filme ela vai poder escolher o figurino dela”, disse o pai da jovem atriz.
Braga explicou porque optou por contar a história do ponto de vista de uma criança. "Essa escolha foi a única forma de abordar a história sem cair no juízo de valor. A história da medalha envolve palavras como ‘comunismo’, ‘ditadura’ e ‘serviço secreto’, e essas geram reações fortes nos espectadores. O olhar da criança é puro, sem os mecanismos de defesa que os adultos têm".
A produção do curta-metragem foi um projeto inteiramente familiar, o que, segundo Renan, foi determinante para o processo criativo. "Esse foi o set de filmagem mais prazeroso em que já estive".
A esposa de Renan, Mariana Farias, não apenas foi produtora de som, mas também colaborou no roteiro e na direção da pequena atriz Amarilis, filha do casal. "Era um trabalho leve e natural, no ritmo da criança e do meu avô. A confiança e intimidade que existiam entre nós facilitaram muito o processo", reforçou Renan.
SURGIMENTO DA IDEIA DO FILME
Desde 2016, o diretor disse que busca compreender a ‘história da medalha’ de Cézar, que colidia com as realidades geopolíticas da época. “E tenho material filmado – material de investigação – onde sento e converso com meu avô sobre o período de ditadura militar. Na época eu havia terminado meu primeiro ano na Escola de Cinema de Cuba e estava de férias no Brasil. Eu tinha 23 anos, a presidente Dilma havia acabado de ser derrubada pelo processo de impeachment. E eu discutia com meu avô sobre o termo ‘golpe’ e o termo ‘revolução’ no contexto de 1964. Nosso sangue esquentava durante as divergências ideológicas”, disse Braga.
Ele lembrou que muitas vezes travava um embate com Cézar, mas que com o tempo as diferenças foram sendo compreendidas. “Tudo volta para seu devido lugar quando a conversa volta para o relato em vez da opinião. Assim, entendi que era através do relato pessoal que conseguia entender um pouco mais sobre aquele homem. Então, quando chegamos para filmar, muitos anos depois, eu já estava preparado e sabia que o campo da opinião pessoal é infrutífero nessas trocas”, sustentou.
REVIRANDO O PASSADO
Na avaliação do diretor, cavar lembranças traumáticas no que tange o coletivo social é uma maneira de superar e encontrar soluções. “Porque muito do que aconteceu 60 anos atrás define o que somos como sociedade. E muitas histórias ainda permanecem ocultas, por diversos motivos. Entendo que acontecimentos ocultos funcionam como uma espécie de trauma coletivo que nos paralisa. Às vezes é difícil lançar luz a esses traumas. Dói, como numa sessão de psicanálise bem feita – ainda mais quando indivíduos que protagonizaram esses acontecimentos estão vivos. Iluminar o passado para trazer clareza para o presente é essencial para imaginar futuro”, defendeu.
O Brasil de 2025, para o diretor, é refém de um passado pouco abordado. “O contexto político atual exige coragem para examinar esses temas. Mas estamos dispostos a fazer isso porque há também uma urgência".
DE CURTA PARA LONGA-METRAGEM
Segundo Braga, A Medalha do Meu Avô é o primeiro passo de um projeto maior: um longa-metragem intitulado Operação Guerrilha, que será filmado em 2026. "Ao fazer este curta-metragem, senti que muita informação ficou de fora. Pode ser que as pessoas saiam com mais perguntas do que respostas do filme. Por conta de todo esse material 'em excesso', estou desenvolvendo um projeto de longa-metragem", revelou Braga.
O diretor disse que pretende expandir a história de seu avô e dos guerrilheiros paraguaios, com cenas filmadas em locais históricos. "Pretendo novamente mesclar ficção e realidade, utilizar o material de arquivo que tenho com meu avô. O projeto será inscrito em editais de financiamento público. Há também a possibilidade de fazermos uma coprodução com o Paraguai", adiantou.
Braga falou que espera o apoio da Pantanal Film Commission na empreitada. "Temos agora uma Film Commission – que organiza o Pantanal Film Festival – e isso abre novas possibilidades de criação. Espero que o projeto comece a tomar forma ao longo de 2026", concluiu.
FICHA TÉCNICA
- ELENCO
Cézar Glauco dos Santos Braga e Amarilis Freitas e Seizer
- ROTEIRO
Renan Braga e Mariana Farias
- DIREÇÃO
Renan Braga
- SOM DIRETO
Mariana Farias
- FOTOGRAFIA
Renan Braga
- EDIÇÃO
Renan Braga
- PRODUÇÃO
Pólofilme, Renan Braga e Mariana Farias
- CORREÇÃO DE COR
Gabriel Ribeiro
- MIXAGEM
Vitor Coroa
- DESIGN GRÁFICO
José Carlos Chamusca
O FESTIVAL DE FILMES DO PANTANAL
O Pantanal Film Festival, organizado pela Pantanal Film Commission, inicia em 24 de março e vai até 5 de abril de 2025 no Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul (MIS-MS).
A atividade, devido a atrasos na gestão cultural sul-mato-grossense, acabou incluída como parte da programação do Campão Cultural, que ocorre de 27 de março a 6 de abril na capital sul-mato-grossense.
O Pantanal Film Fest apresentará uma programação diversificada, com exibições diárias de 40 filmes nacionais e internacionais, além de uma palestra.
Em todas as exibições do Pantanal Film Fest, a entrada será gratuita.