O documentário Poty, dirigido por Michele Perito Concianza, será exibido nesta quarta-feira, 26 de março de 2025, às 18h, no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campo Grande (MS). A exibição integra a programação do Pantanal Film Fest, que acontece de 24 de março a 5 de abril, com 40 filmes programados.
Poty aborda a tradicional arte da confecção e uso das roupas típicas Guarani Kaiowá, especialmente feitas por mulheres e anciãs. “As vestimentas são mais que trajes; representam a pureza, a força espiritual e a conexão com Ñanderu, sendo usadas em rituais sagrados e cerimônias que simbolizam a vida, a esperança e a resistência dessa comunidade”, afirma a sinopse do filme.
Em entrevista ao TeatrineTV, a assistente de direção e diretora de fotografia, Daniele Jorge João, explicou que o filme surgiu da necessidade de preservar a cultura Poty. "Nós, como diretoras, fizemos uma pesquisa porque muitas juventudes perderam muito de sua cultura e nem sabem mais como é a roupa típica. Queríamos trazer de volta esse saber, ensinar a juventude a fazer a roupa, a sentir e a entender a importância dessa prática", disse.
A diretora também ressaltou a relevância das roupas típicas como forma de resistência cultural: "A nossa roupa típica é nossa defesa, nossa forma de nos expressar e de nos defender. Não usamos apenas para nós, mas também em assembleias, em lutas, em rituais sagrados".
Segundo Daniela, o filme é uma forma de abrir o debate sobre a importância de transmitir esse conhecimento às novas gerações. "A juventude é o futuro. Somos nós que vamos manter e levar adiante essa tradição, essa cultura, essas rezas, essas vestimentas, para as gerações futuras".
CULTURA CONTRA A BALA
Com o filme, Daniela busca usar a cultura como resposta à violência e à opressão enfrentadas pelos Guarani Kaiowá. Recentemente, líderes indígenas denunciaram ataques violentos em suas comunidades, caracterizando-os como massacres promovidos por fazendeiros e até forças policiais. Valdelice Veron, líder indígena, afirmou: "Não é conflito, é massacre. Não temos condições de dialogar com o governo do Mato Grosso do Sul. É pistoleiro, fazendeiro, o Departamento de Operação de Fronteira, a Polícia Militar, todos juntos [contra as comunidades indígenas]".
Os ataques resultaram em mortes e ferimentos graves, deixando a comunidade em estado de alerta constante. A liderança indígena também declarou: "Estamos passando por tempos de massacre. Massacres da milícia institucionalizada. Massacre é quando a Tropa de Choque da PM e helicópteros atacam nossas aldeias".
REGISTRO HISTÓRICO E MIDIÁTICO
A luta do povo Guarani Kaiowá, pela preservação cultural e territorial, é essencial. "Hoje, em Mato Grosso do Sul, os Guarani Kaiowá são os mais sofridos pelos ataques dos fazendeiros latifundiários. Podemos mostrar nossa roupa típica, nossos direitos, porque muitas juventudes morreram nos ataques, baleados pelos latifundiários", denunciou Daniela. Ela também destacou a falta de cobertura midiática sobre esses episódios violentos: "Temos provas disso, mas nunca foi mostrado na mídia. Através dos filmes, podemos denunciar tudo o que aconteceu em Mato Grosso do Sul".
Ao falar sobre resistência, Daniela reafirmou a importância da juventude na preservação da cultura e na luta por direitos. "A juventude é o futuro. Somos nós que vamos manter e levar adiante essa tradição, essa cultura, essas rezas, essas vestimentas, para as gerações futuras." Para ela, o documentário Poty é uma ferramenta vital, pois registra e divulga a história e as lutas de seu povo. "Esse filme é muito importante para nós, para deixar registrado para sempre nas mídias e redes sociais", acrescentou.
O filme, portanto, se torna uma denúncia contra a violência e a opressão enfrentadas pelos povos indígenas em Mato Grosso do Sul. Como destacou Daniela, a luta é constante: "Nossa luta não é só pela demarcação de terras, mas também pela nossa cultura. É através dela que mostramos nossa resistência, nossa força. Nossa cultura é a nossa resposta ao que vivemos todos os dias", concluiu.
Ficha Técnica
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Direção: Michele Perito Concianza
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Assistente de Direção: Daniele Jorge João
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Câmera: Daniele Jorge João
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Figurino: Faby Fernandes
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Produção: Marinete Pinheiro
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Edição: Marinete Pinheiro
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Local de Filmagem: Guyra Kambiy
Participações:
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Arlane Jorge João
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Marilly Jorge João
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Adelaide Jorge
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Gislaine Pedro Ferreira
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Neuza Concianza
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Josieli Jorge João
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Adelina Ramona
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Ana Melia Concianza
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Elza Pedro
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Ivone Agemira Jorge
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Ana Maria
SERVIÇO
O que: Exibição do ficção 'O Formoso' no MIS.
Quando: 18h, em 27 de março de 2025.
Onde: Museu da Imagem e do Som (MIS), Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, 3º andar, Campo Grande.
Entrada: Gratuita.
Por quê: O filme integra a programação do Pantanal Film Fest, no contexto do Campão Cultural.