
O curta-metragem "Sem Paralelo", dirigido por Andréa Freire, da produtora Marruá Arte e Cultura, será exibido ao público campo-grandense às 18h de 28 de março, no Museu da Imagem e do Som (MIS), integrando a programação do Pantanal Film Fest, que teve início em 24 de março e segue até 5 de abril na Capital sul-mato-grossense.
A produção documental de 12 minutos trará à tona a história de Abboud Lahdo, um dos maiores nomes do cinema sul-mato-grossense. Aos 88 anos, Lahdo é conhecido pelo longa-metragem "Paralelos Trágicos", um filme que, apesar de seu impacto cultural significativo na década de 1960, acabou se perdendo para sempre devido à destruição de suas cópias.
A obra foi filmada em Campo Grande e estreou em 1967, mas nunca mais foi vista devido a um incêndio que consumiu o Cine Acapulco, onde o filme estava armazenado.
Em uma entrevista ao TeatrineTV, Andréa Freire disse que o filme "Sem Paralelo" busca, principalmente, preservar a memória cinematográfica local. "O curta-metragem revela o personagem, diretor e ator do filme longa-metragem realizado em Campo Grande nos anos 60. Busquei capturar a essência de um homem cuja vida e obra estão intrinsecamente ligadas ao cinema campo-grandense. Abboud Lahdo, aos 88 anos, não é apenas o diretor de "Paralelos Trágicos"; ele é a encarnação das histórias que o cinema pode contar, e das memórias que moldam a nossa existência", explicou Andréa.

Para Andréa, "Paralelos Trágicos" é o filme mais significativo da trajetória de Abboud Lahdo. O longa-metragem conta a história de um professor apaixonado por uma jovem rica e perseguido pela família dela, e representa um marco na cultura campo-grandense dos anos 60, sendo proibido pela ditadura militar. "Uma emoção que me marcou foi o fato dele considerar o filme a ‘árvore’ que plantou ou o ‘livro’ que escreveu na vida. A perda maior certamente é do diretor e equipe que fizeram o filme, mas chama a atenção também a demolição e extinção desse patrimônio imaterial da cidade, com a destruição do filme que não mais pode ser visto", lamentou.
A diretora apontou que a destruição de "Paralelos Trágicos" teve implicações sérias para o cinema sul-mato-grossense, especialmente no que diz respeito à preservação da história e dos modos de produção da época. "O filme gerou grande impacto, tanto nacional quanto internacionalmente. Cineastas como Rogério Sganzerla e Claude Lelouch demonstraram admiração pela obra, que foi uma das primeiras a trazer a produção cinematográfica do estado para o cenário nacional", lembrou Andréa.
A produção de "Sem Paralelo" levou cerca de dois anos para ser concretizada. "O projeto foi contemplado com recursos do Prêmio Ipê do Audiovisual, da Secretaria de Cultura e Turismo e Prefeitura de Campo Grande, entre a disponibilização do recurso e sua estreia foram dois anos, de 2021 a 2023", apontou.
O curta não é apenas uma reprodução da história de "Paralelos Trágicos", mas uma homenagem poética à figura de Abboud Lahdo. "Acredito que a beleza do cinema reside na capacidade de resgatar o que parece perdido e dar vida a novas narrativas a partir de experiências passadas. O curta é um tributo a essa rica herança cinematográfica e uma reflexão sobre a passagem do tempo. Através da sua história, convido o espectador a mergulhar nas nuances da criação artística, na fragilidade da memória e no amor que transcende gerações. A figura de Abboud é emblemática, simbolizando não apenas o talento, mas também os desafios enfrentados por aqueles que se dedicam à arte em contextos adversos".
Levantar o projeto de "Sem Paralelo" enfrentou obstáculos como "a interação com importantes agentes dessa história que se negam a falar sobre ela". No entanto, a diretora manteve seu foco em capturar a essência de Abboud e sua obra.
Essa não é a estreia do curta "Sem Paralelo". "O filme foi exibido em dois festivais, o Transcine, aqui em MS e o Baixada Film Festival, no Maranhão e segue o circuito sendo inscrito em outros festivais", detalhou.
Agora, filme será exibido o curta será exibido no Pantanal Film Festival, uma iniciativa que em sua estreia busca promover o audiovisual do estado e aproximá-lo do público local. "Os festivais são janelas promissoras nesse sentido", anotou.
A deseja que o filme possa impactar positivamente o futuro do cinema local. "Espero que esta obra inspire uma nova geração a olhar para a história do cinema local com admiração e curiosidade, assim como eu fiz ao me deparar com a trajetória de Abboud Lahdo. E possa encontrar no presente novas formas de o promover, sem traumas tão profundos como o que ocorreu com 'Paralelos Trágicos'", concluiu.
FICHA TÉCNICA
- Direção: Andréa Freire
- Roteiro: Belchior Cabral
- Artista convidado: Abboud Lahdo
- Assistente de Direção: Laura Maeoca
- Produção e Pesquisa: Andréa Freire
- Arte: Lula Ricardi
- Fotografia e Câmera: Helton Perez e Reynaldo Zangrandi
- Montagem e Finalização: Helton Perez | Vaca Azul
- Som direto: Hanna Chaves | Vaca Azul
- Assistente de Set: Eduardo Cabral
- Consultoria: Reynaldo Zangrandi
- Trilha: André Stabile, Ton Alves e Alex Cavalheri
- Produção: Andréa Freire e Belchior Cabral
- Empresa produtora: Marruá Arte e Cultura
- Agradecimentos: Família Lahdo, Silvano Guizzo, Raquel Freire Zangrandi, Antônio Freire Zangrandi, PJ. Maia, Clarice Benites, Reginaldo de Jesus Moura, Armazém Cultural, Paróquia São José, Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado.
O CINE ACAPULCO
O Cine Acapulco foi o auge do cinema de rua em Campo Grande nos anos 70. Com capacidade para 700 pessoas, o cinema exibiu grandes sucessos de Hollywood, como O Exorcista e Laranja Mecânica.
Além disso, o Acapulco também importou e produziu "Paralelos Trágicos".
A família Lahdo, responsável pela fundação do cinema, enfrentou desafios financeiros ao longo dos anos.
Em 1983, as salas de cinema foram fechadas devido aos custos elevados de manutenção.
Em 2000, o Cine Acapulco pegou fogo, destruindo importantes memórias culturais do local.
Apesar de um projeto de reforma em 2014, o local permanece abandonado até hoje.
SERVIÇO
O que: Exibição do documentário "Sem Paralelo" no MIS.
Quando: 18h, em 28 de março de 2025.
Onde: Museu da Imagem e do Som (MIS), Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, 3º andar, Campo Grande (MS).
Entrada: Gratuita.
Por quê: O filme integra a programação do Pantanal Film Fest, no contexto do Campão Cultural.