Acontece de 9 a 29 de abril a 5ª edição do Cineclube da Boca com sessões em vários espaços culturais de Campo Grande (MS).
Por meio de uma curadoria de Felipe Feitosa, produção de João Pelosi e Aram Amorim, 13 filmes que exploram criaturas insólitas e ameaçadoras típicas do gênero de terror, integrarão a programação intitulada "Eles Voltam na Noite".
O cineclube foi fundado em 2022 por Marco Antônio Bonatelli, Felipe Feitosa e João Pelosi, hoje ex-alunos de audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
O Cineclube da Boca foi contemplado com R$ 48.950,00 por meio de edital da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultural, gerenciada pela Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur) em Campo Grande.
Além das sessões de cinema, com o montante a equipe do cineclube realizará oficinas de sonorização e escrita criativa para cinema, além de uma exposição temática.
O projeto visa mostrar que o cinema popular pode ser profundo e que o cinema dito "profundo" também pode ser popular.
As sessões inclusivas para pessoas com deficiência auditiva. Todas as sessões serão gratuitas e acompanhadas de pipoca e refrigerante.
Confira a programação das sessões "Eles Voltam na Noite", do Cineclube da Boca:
- Cerimônia de Abertura: 9 de abril às 20h no Capivas Cervejaria, com exibição ao vivo do filme "O Gabinete do Doutor Caligari" (1920) acompanhado pela banda Ovelhas Elétricas.
- Exposição Temática: De 11 de abril a 20 de junho no MIS.
- Sessões de Filmes e Debates: Realizadas no MIS e na CUFA, incluindo filmes como "Garota Infernal" (2009), "Christine, o Carro Assassino" (1983), "O Hospedeiro" (2006) e muito mais.
- Oficinas de Sonorização e Escrita Criativa: Ministradas por Aram Amorim e Ramiro Giroldo no MIS.
- Cerimônia de Encerramento: 29 de junho às 23h59 na Casa de Ensaio, com exibição do filme "A Bruxa de Blair" (1999).
- O Cineclube "Eles Voltam na Noite" promete uma experiência cinematográfica enriquecedora para todos os amantes do terror e do cinema em geral.
O CINECLUBE DA BOCA
Em entrevista exclusiva ao TeatrineTV, Felipe Feitosa, curador desta edição, destacou a importância de selecionar filmes que proporcionem novos olhares e abram horizontes para diferentes formas de consumo cinematográfico, além de responder a diversas questões sobre o festival. Leia abaixo:
TEATRINETV: Bom dia, Felipe! Como vai? Obrigado por compartilhar suas respostas conosco. Para começar, por que você decidiu integrar um trio que fundaria um cineclube?
FELIPE: A decisão de fazer parte d’A Boca foi algo muito natural. A Boca nasceu entre amigos universitários que já estavam há um bom tempo produzindo de tudo juntos. O coletivo surgiu pela necessidade de afirmar nossa identidade coletiva e nos estabelecer de forma mais profissional no cenário cultural de Mato Grosso do Sul.
TTV: Interessante. E sobre o nome "Eles Voltam na Noite" para a programação atual do cineclube, o que esse nome representa?
FELIPE: Sim, exatamente. Esse nome surgiu quando definimos o conceito da programação. Sabíamos desde o começo que o cineclube seria voltado para filmes de monstros, mas o nome só surgiu quando fechamos ainda mais o conceito. A minha ideia, enquanto curador, é exibir filmes de monstros modernos que subvertem ou fazem releituras de criaturas e temas clássicos. Ou seja, o título é uma brincadeira com a abstração dos monstros estarem voltando na modernidade. Além de ser o segundo cineclube temático de terror que organizamos, então, nesse sentido, também tem algo de retorno.
TTV: Sobre a escolha dos filmes: Como é feita a seleção dos filmes exibidos no cineclube? Quais critérios são considerados para compor a programação?
FELIPE: Depois que um tema guarda-chuva é escolhido de forma coletiva pelos membros do coletivo (dessa vez foi filmes de terror), a pessoa responsável pela curadoria tem uma liberdade maior para escolher os filmes e o método varia de membro para membro. Eu gosto de pesquisar sobre o tema e assistir alguns filmes novos que possam surgir durante a pesquisa, mas sempre dou preferência a filmes que eu gosto muito. O cineclube é para ser educativo, mas também tem um princípio de partilha. A minha ideia é sempre exibir coisas que eu gosto muito, mas que acredito terem um grande potencial de discussão. Dessa vez eu optei por um recorte de filmes que acredito que não são amplamente debatidos, apesar de alguns serem bem populares. Para mim é uma questão de levar algo novo para as pessoas, pode ser um novo filme, mas a premissa da vez é levar uma nova forma de olhar para esse subgênero.
TTV: cinematográficas fora do circuito comercial em Campo Grande?
FELIPE: Campo Grande carece muito de um circuito exibidor alternativo. As poucas exibições cinematográficas que ocorrem fora das salas multiplex sempre são muito nichadas. A proposta que a gente tenta manter n’A Boca é a de construir, de fato, um espaço de debate e consumo de cinema mais popular. Dessa forma, com atividades como as do nosso cineclube, que agora não se limita só a exibição de filmes, é possível pensar em uma construção de uma cultura cinematográfica para a cidade. É óbvio que os campo-grandenses gostam de cinema, mas ainda não existe uma comunidade cinéfila consolidada e eu acredito que eventos como o que estamos fazendo podem fortalecer e expandir essa cultura.
TTV: Como você descreveria a experiência proporcionada pelo cineclube? O que diferencia assistir a filmes em um ambiente cultural como esse?
FELIPE: O primeiro e mais importante é o acesso a um ambiente de troca. Os filmes sempre são apresentados e contextualizados no começo de cada sessão. E quando acaba o filme, faz-se um debate aberto a todos os espectadores. Também tem a possibilidade de acesso a um recorte não comercial. As obras que chegam às salas de cinema são sempre muito limitadas aos interesses da indústria. No cineclube procuramos exibir filmes de diferentes países, épocas e estilos. É um ambiente propício ao enriquecimento cultural. A pessoa que consome cinema no cineclube passa a fazer parte de uma comunidade, expande seu repertório cinematográfico e aprende mais sobre cinema.
TTV: Como o cineclube busca envolver e impactar a comunidade local através das oficinas e exposições temáticas?
FELIPE: O objetivo dos eventos que ocorrem para além das exibições principais é expandir a experiência cultural com cinema que, a partir dessas atividades, deixa de se limitar somente à sala de exibição. Dessa forma, o público pode usufruir de um espaço cultural que também está preocupado em contribuir para a formação e evolução da sua comunidade. O nosso espectador não tem acesso somente a uma forma mais barata de entretenimento, mas também encontra um ambiente propício ao seu desenvolvimento individual e comunitário.
TTV: Quais são os desafios e oportunidades de atingir diferentes públicos, incluindo pessoas com deficiência auditiva, através dessas iniciativas?
FELIPE: Felizmente, graças aos recursos advindos da Lei Paulo Gustavo, neste ano estamos podendo trabalhar com acessibilidade comunicacional em nossos eventos. É uma questão na qual já pensávamos anteriormente, mas o cineclube sempre foi realizado sem recursos e isso era um fator impossibilitador. Nesta edição, contaremos com intérpretes de libras e legendas descritivas para atender parte da população que necessita desse tipo de acessibilidade. Com isso, elas poderão participar não só das exibições, como também dos debates. Agora, nosso esforço também está voltado para alcançar essas pessoas e criar um espaço democrático, que deve ser sempre o principal objetivo de um cineclube.
TTV: Felipe, o cineclube desempenha um papel fundamental na promoção de uma cultura diversificada de consumo de cinema. Como você descreveria esse papel?
FELIPE: O cineclube promove exibições de cinema num regime não comercial, visando tornar o cinema mais democrático e acessível a todos. Ao participar do cineclube, o público tem acesso a uma variedade maior de filmes contextualizados dentro de um recorte propositivo. Isso introduz os espectadores a novos pontos de vista sobre as obras selecionadas. Além disso, a apresentação do filme seguida de debate proporciona uma experiência de educação audiovisual, enriquecendo o conhecimento cinematográfico dos participantes.
TTV: Explorando temas específicos, como o gênero do terror aborda questões políticas e culturais nos filmes selecionados?
FELIPE: O terror tem uma propensão única para refletir questões sociais e políticas de forma impactante. Os monstros muitas vezes servem como metáforas para discussões profundas sobre problemas humanos. Essa capacidade permite ao cineasta abordar assuntos sem mencioná-los diretamente, incentivando reflexões críticas sobre nossas maiores preocupações sociais.
TTV: E quanto ao fomento à produção local, como o cineclube pode incentivar filmes regionais e independentes?
FELIPE: Um cineclube é um ambiente rico para exibir filmes regionais e independentes, possibilitando uma interação direta com os realizadores. Isso permite que a população em geral conheça mais sobre os caminhos da produção audiovisual brasileira. Embora atualmente estejamos focados em objetivos educacionais, reconhecemos a importância de criar um circuito exibidor para o cinema regional, e estamos estudando possibilidades nessa direção para o futuro.
TTV: E sobre acessibilidade cultural, como as sessões inclusivas e gratuitas contribuem para democratizar a arte cinematográfica?
FELIPE: As sessões inclusivas com legendas descritivas e intérpretes de libras ampliam significativamente o acesso à arte cinematográfica. Tais iniciativas são essenciais para integrar grupos que, de outra forma, poderiam ser excluídos, permitindo uma participação mais completa e inclusiva na experiência do cineclube.
TTV: Olhando para o futuro, quais são os planos e expectativas para as próximas edições do cineclube?
FELIPE: No segundo semestre deste ano, planejamos uma ação educacional em parceria com uma escola pública, visando expandir o acesso a uma cultura cinematográfica mais rica. Nosso objetivo é não apenas promover o cineclube, mas também criar outras mostras de cinema, ocupando espaços diversos e trabalhando para fortalecer a comunidade cinematográfica da cidade. A constância nesse trabalho pode concretizar iniciativas valiosas para Campo Grande e sua classe artística, proporcionando uma cultura cinematográfica que vai além das salas multiplex.