O ator carioca Reginaldo Faria, de 87 anos, recebeu uma homenagem na noite da 6ª. feira (19.jul.24), na cerimônia de abertura do Bonito Cinesur, no Centro de Convenções de Bonito (MS).
A entrega de um troféu simbólico ocorreu após a sessão do filme ‘Selva Trágica’, produção protagonizada por Refinaldo, realizada em 1963 em Mato Grosso do Sul.
Mencionado o prêmio e reconhecimento de sua carreira, Reginaldo Faria enfatizou a importância emocional dessas honrarias, e sustentou que elas têm valor individual. “Cada prêmio é cada prêmio, entendeu? Cada um tem um significado, cada um tem uma história. Daí parece até jogo de futebol, aquela coisa assim: cada jogo é um jogo. Então, cada jogo é um jogo! Esse aqui é um jogo e me conquistou. Vocês viram, eu Reme emocionei, eu não esperava por isso. Eu jamais esperei ser premiado, reconhecido, homenageado por um filme que eu fiz há 61 anos. Esse é o significado que a gente está vivo, não? É, nós estamos vivos, nós estamos fazendo cinema, né? Não fosse o audiovisual. Talvez eu não estivesse aqui respondendo a você”, introduziu o artista em entrevista ao TeatrineTV.
O ator exaltou a coragem do diretor de ‘Selva Trágica’, Roberto Faria, seu irmão, e do autor do romance com nome homônimo. “Eu me sinto superimportante vendo esse filme agora, depois de mais de não sei quantos anos... Porque essa importância ela mexe comigo, e eu vejo o que nós conquistamos. Eu vejo o que nós fizemos. Eu vejo a coragem do Hernani Donato de ter escrito esse livro e a coragem do Roberto de ter peitado esse filme naquela época em que a política já estava, o país estava numa situação política muito grave, né? Que logo um ano depois veio a ditadura”, apontou.
No enredo de ‘Selva Trágica’, o personagem Pablito (Reginaldo Faria) tenta fugir com uma namorada, Flora (Rejane Medeiros), de uma fazenda de erva na fronteira de Ponta Porã com o Paraguai, onde os trabalhadores vivem uma situação escravagista. Além de Reginaldo e Rejane, estão no elenco do longo: Aurélio Teixeira, Maurício do Valle e Jofre Soares. ‘Selva Trágica’ chegou às salas de cinema no ano do golpe militar e naquele quadro aterrorizante não fez grande sucesso de público e até a crítica foi reticente. “Esse filme aí ele é apenas um, vamos dizer assim, um ‘recuerdo’... Eu acho que ele vigora até hoje, desde 1963, porque ela é impactante, todo mundo gosta. E eu acho que isso aí ainda acontece nos dias de hoje, que é muito triste, por isso, é sempre bom denunciar, é sempre bom lutar para que isso não aconteça”, observou Reginaldo.
O ator enalteceu o surgimento do Cinesur no coração do Brasil, mas avaliou que é preciso mais: "Eu acho que não basta somente este festival. Eu acho que este festival, vamos dizer assim, é a porta de entrada, né? É o start, para que você siga outros caminhos e possa mostrar a sua obra em outros festivais também".
O fortalecimento do cinema sul-americano, para Faria, é uma luta travada há séculos que aos poucos começa a corroer a discriminação persistente na indústria de cinema americano, contra cineastas sul-americanos "Olha, nós sempre fomos muito discriminados, vamos dizer assim, não que eles não considerem o teor da nossa obra, mas fomos no sentido econômico, porque o poderio das multinacionais continua existindo, continua massacrando, continua tirando o nosso espaço", concluiu.