A exposição conjunta 'À Deriva - Uma Busca de Si' e 'Matriz', de Gabriel Martins e Maria Chiang, respectivamente, foi interrompida na 4ª feira (28.jun), devido ao início da montagem do festival ‘Comida em Movimento – Cinema e Gastronomia’ que deve começar nesta 5ª feira (29.jun), na Galeria de Vidro, em Campo Grande (MS).
Originalmente, a exposição deveria ocorrer até dia 30 de junho, mas uma confusão da Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), permitiu os dois eventos simultâneos na Galeria de Vidro, local destinado à exposições na Plataforma Cultural, no Centro.
“A responsabilidade não é do pessoal do festival, eles estavam autorizados a usar aqui hoje. O evento deles começa às 16h, mas nossa exposição ainda teria mais dois dias”, introduziu Chiang em conversa ao telefone com a reportagem do TeatrineTV na manhã desta 5ª feira (29.jun.23).
Segundo Chiang, na 4ª feira (28.jun) ela descobriu que estavam movendo os painéis do espaço expositivo sem sua autorização e que a visitação à exposição havia sido interrompida.
"Fiquei sabendo da exposição inativada antes da data de término oficial através de um casal de amigos que foi visitar e não a encontraram no lugar, estava desconfigurada e com movimentações de um evento novo sendo montado no lugar", contou.
Chiang lamentou o desrespeito da Sectur com o seu trabalho. "Não fomos avisados da interrupção, fomos pegos de surpresa. É uma falta de respeito com nosso trabalho que passou por um processo seletivo para atender à comunidade que vem visitar e fruir dos trabalhos de artistas visuais que por aqui compartilham sua produção, um espaço destinado para as Artes Visuais”, reclamou.
A exposição conjunta de Chiang e Gabriel foi vencedora do 1º Prêmio Ipê de Artes Visuais, promovido pela própria Sectur.
Falamos com a amiga de Chiang, Thaís Batista que tinha ido com o companheiro até a Galeria de Vidro para ver a exposição 'À Deriva'. A amiga, que se programou para prestigiar a exposição, lamentou não ter conseguido acesso.
“Ao chegarmos no local, nos deparamos com a movimentação de montagem de um outro evento cultural. Nos direcionamos propriamente ao espaço onde deveriam estar sendo expostas as obras e os painéis onde ficariam fixadas, já estavam em branco, não havia nenhuma obra exposta”, narrou.
Então o casal de amigos questionou uma pessoa no local, que informou que estava sendo montado um outro evento e que por isso a exposição foi desmontada. “Voltamos para casa, decepcionados porque tínhamos o interesse de apreciar essa exposição e entramos em contato com a artista, para perguntar sobre uma nova exposição, uma nova data, se haviam trocado de local, porque a divulgação ela informa que seria até o dia 30 deste mês, e queríamos contemplar, então estaríamos dentro do prazo. Nós estivemos no local umas 18h30, que foi onde encontramos o espaço das obras desmontado e não pudemos ter acesso a exposição”, detalhou, Thaís.
Ainda de acordo com Thaís, pela conversa com a pessoa na Galeria notou que houve uma falta de atenção na programação dos eventos, o que levou ao ‘choque de datas’. “Porque tanto a pessoa que estava responsável pelo evento, quanto a própria artista que entramos em contato, para saber sobre uma nova exposição, ou se tinham mudado de lugar, algo do tipo, ficaram surpresos. Então, ao que me parece faltou uma atenção na questão de montagem do calendário, para que as datas dos eventos não bastassem e que a população pudesse ter acesso tanto a um evento quanto ao outro, né? Ambos têm o seu prestígio e mereciam ter respeitadas suas datas para acontecer”, opinou Thaís.
A produtora cultural, organizadora do Festival ‘Comida em Movimento – Cinema e Gastronomia’, Elis Regina, disse à reportagem do TeatrineTV que recebeu autorização para montar uma sala de cinema na Galeria de Vidro.
“Quando eu escrevi o projeto eu disse que seria na Galeria de Vidro. O meu projeto foi aprovado no FMIC em 2021, adiado 3 vezes, nunca, ninguém na secretaria me falou: ‘Elis, você não pode fazer lá’. Quando eu chego ontem aqui eu me deparo com a exposição. A primeira coisa que eu fiz foi mandar uma mensagem de voz para Clarice”, explicou.
Conforme a produtora, a secretária-adjunta Clarice Benites, foi quem a autorizou o uso da Galeria para o festival. Ao ser procurada por Elis na 4ª, Clarice a orientou que falasse com o gestor da Galeria de Vidro chamado “Ramão” para ver o que poderia ser feito. “O Ramão falou que eu poderia mover os painéis, não tocamos nas obras, apenas movemos os painéis para montar a sala de cinema aqui. Eu disse para a Clarice que era preciso avisar a artista do que estava acontecendo, mas ninguém avisou a artista. O que eles fizeram foi que um setor não conversou com o outro, então encavalou essas datas’’, lamentou, Elis.
Ainda de acordo com a produtora, o festival é de um edital que atrasou várias vezes e que ela só solicitou o uso da Galeria de Vidro, porque não há espaços culturais na cidade. "Os espaços culturais dessas cidades estão todos fechados, Aracy Balabanian em obra há muitos anos. Então só solicitei esse espaço das artes visuais porque é o único que temos, se tivesse outro eu faria lá”, apontou.
A reportagem procurou o superintendente de cultura Roberto Figueiredo que disse que a Secretaria estava trabalhando para resolver o problema. “Acredito que os 2 eventos são muito importantes. Vamos tentar resolver da melhor forma”, disse Roberto.
Chiang disse que a única solução encontrada foi ela e Gabriel retirarem suas obras da Galeria. "Vamos tirar nossas obras e vamos cobrar uma retratação por parte da Sectur", finalizou, a artista visual, numa conversa final bastante nervosa com toda situação a qual ela e Gabriel foram submetidos.