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Artes Cênicas

André Tristão mostra a potência do ‘artista de casa’ em novo espetáculo

Por TERO QUEIROZ • 31/01/2023 • 23:39

​O ator e diretor André Tristão estreou nos dias 27, 28 e 29 de janeiro seu novo espetáculo “Eu Preciso Que Vocês Me Escutem” e segue em cartaz nos dias 3, 4 e 5 de fevereiro, sempre às 20h, no Armazém Cultural em Campo Grande (MS). As vagas para assistir, entretanto, foram preenchidas antes mesmo da estreia.

A reportagem do TeatrineTV acompanhou a sessão do domingo (29.jan.23).

Performando sob o estudo da presença cênica e treinamentos corporais por meio da Técnica Klauss Vianna, Tristão impactou de diversas maneiras a sua plateia, hora pelos movimentos corporais constantes, hora ao interpretar os textos de Giordano Castro (PE), Raquel Naveira (MS) e Ewerton Goulart (MS) que formam o espetáculo. “É intimista, uma peça dele. É uma coisa de só ele falar, faz a gente se olhar para dentro e se movimentar lá no fundo”, considerou a arquiteta Andreza Maciel, de 25 anos, ao final da apresentação.

Andreza Maciel, de 25 anos. Foto: @alyfreitas | @teatrinetv

Ao entrar no espaço de apresentação, de cara notava-se a presença de poucos pontos de luz e nenhum assento. Parte do público sentou-se no chão, enquanto outros continuaram de pé. Logo, ao longe, surgia o personagem: “Um galpão preto com luzes e fumaça e aí começa ele falando sozinho. Aí você fica pensando: Meus Deus, será que é ele com vozes na cabeça dele? Aí aparece ele no telão. Aí você fica: Meus Deus, será que é ele fragmentado brigando com ele mesmo? O que  está acontecendo? Várias coisas...”, narrou Andreza.

André Tristão em cena no espetáculo "Eu Preciso Que Vocês Me Escutem". Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv

“Ele começa a dançar, a mão fica assim controlando. Aí você pensa: será que é ele na cabeça dele, com vários dele, fragmentado brigando? Nunca tinha visto ele, mas adorei. Achei o texto doido, bem difícil de entender, muito legal, interessante e inteligente”, disse a jovem, entusiasmada.

O jornalista Sérgio Carvalho também viu André pela 1ª vez em cena e considerou um dia marcante. “O trabalho de corpo e fôlego dele impressiona. Uma atividade física constante sem perder o fôlego da voz. E em vários momentos, inclusive, ele interpreta dois personagens: um cansado, que é o real. E o não cansado. Então, eu acho isso maravilhoso no trabalho dele”.

O jornalista Sérgio Carvalho na saída da apresentação do espetáculo 'Eu Preciso Que Vocês Me Escutem'. Foto: @alyfreitas | @teatrinetv

Para Carvalho, André atingiu o objetivo artístico em seu projeto. “Ele está íntegro no trabalho de ator. Ele utiliza os três planos: alto, médio e baixo. Ele utiliza o movimento, dança, canta e interpreta. Ele se revela, sem dúvida nenhuma, um ator completo. Para mim, para ficar perfeito, só faltou ele tocar um instrumento”, completou.

Rossine Benício, de 55 anos. Foto: @alyfreitas | @teatrinetv

O professor de Lígua Portuguesa Rossine Benício, de 55 anos, avaliou que o espetáculo oportuniza a mesclagem de várias artes. “Há um trabalho do meta-texto, ele questiona o trabalho do homem de teatro, do artista. Esse próprio questionamento da arte é muito rico. E as experiências que ele traz da música, da dança, da performance e da tecnologia enriquecem o teatro. São várias linguagens que se apresentam, não de maneira esporádica ou soltas, mas elas se coadunam, dão qualidade, valorizam o trabalho do artista e dialogam com a plateia. Não é um espetáculo difícil, o texto é muito bom, ao mesmo tempo não é simplista, é um texto denso e questionador também. Ele entrega um trabalho de muita qualidade, vejo ali a artesania do artista”, avaliou.

MÃO FEMININA

Essa é Ligia Prieto, que assina a Provoção Cênica no espetáculo "Eu Preciso Que Vocês Me Escutem". Foto: @alyfreitas | @tetarinetv

A provocadora cênica, Ligia Prieto, explicou que seu trabalho junto a André partiu muito do questionamento. “O trabalho de provocação-cena foca numa expansão da potência do ator, entorno da montagem específica. Então, por que você está montando isso? Qual é seu real desejo em relação a cada lugar? Aí, aos poucos, a gente vai conectando a cada gesto de cena, cada movimento que se dá. Não é uma justificativa e sim uma estruturação. A partir de uma construção de perguntas sem respostas, o que a provocação faz é levar o ator a buscar respostas que ele não tem”, explicou.

A profissional considerou que foram muitas etapas até que se chegasse no que está sendo apresentado ao público. “Cada ator tem suas potencialidades e o André vem com um combo: palavra, corpo e movimento.... De tudo que ele traz de sua estrada de trabalho. Então, a gente começa a questionar e encontrar as fragilidades para dar um lugar mais honesto para plateia... de assumir o cansaço, de chamar a plateia e dizer: é isso que eu tenho para te dar”, acrescentou.

André comenta sua apresentação ao final da sessão de domingo, 29 de janeiro, no Armazém Cultural. Foto: @alyfreitas | @teatrinetv

Para conceber seu espetáculo, André contou também com a Direção de Movimento de Jussara Miller e com a Assistência de Direção de Movimento de Dora de Andrade. O artista disse que normalmente  é rodeado de mulheres, muito em razão de suas experiências de vida. “Em todas as minhas experiências de aprendizado, de estudo, eu sempre tive mulheres. Da parte da família, minha mãe, do colégio, da faculdade... Aí na minha pós, quando eu comecei a estudar a técnica Klauss Vianna de repente eu me vi numa sala com 25 mulheres, as professoras todas mulheres, e eu o único homem ali no meio. Então, eu tenho essa contaminação da figura feminina muito presente e eu confio nas mulheres”, apostou.

O diretor diz que a influência personalidades e tanta em sua carreira, que ele não saberia comparar com o trabalho em parceria com um homem. “Não sei nem diferenciar, porque se eu trabalhei com algum homem, foi raro. Sempre trabalhei com mulheres. No Teatral (TGR), as minhas referências eram a Roma e a Fernanda, então, não sei te dizer qual é exatamente a diferença. Mas acho que elas me dão um olhar mais sensível, cuidadoso, minucioso, tanto na hora de me acessar, quanto ao apostar comigo”.

APOSTAS NÃO CONVENCIONAIS

Público assiste espetáculo "Eu Preciso Que Vocês Me Escutem" na noite do domingo, 29 de janeiro, no Armazém Cultural. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv

Na história de “Eu Preciso que Vocês Me Escutem”, o texto não-linear é mesclado à produção audiovisual de Helton Pérez e a produção musical de Júlio Queiroz. “É quase uma metalinguagem que o André brinca o tempo todo. Ele traz o texto de forma literal. Ele traz o texto no corpo, no vídeo, a todo tempo. A todo tempo ele também está se questionando, questionando o teatro, inclusive. Na iluminação o Espedito acrescenta esse jogo cênico. A estrutura do espetáculo é de movimentação. A pesquisa é justamente usar esses espaços não convencionais. Quando o espectador entra, é como se ele se tornasse parte dessa célula viva”, detalhou Ligia.

  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • Público aguarda abertura das portas para assistir o espetáculo "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv
  • André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv

Por isso, além de se movimentar a todo tempo, André também tenta envolver o público. “Meu intuito é trabalhar, estudar e pesquisar a presença cênica. A minha presença. Só que eu não gosto de trabalhar só a minha presença, eu gosto de ativar a das outras pessoas. Então, não ter um local onde eu me sentar é justamente para  ativar essa presença, o público se mover junto comigo”, esclareceu André.

Ligia disse ainda que o espetáculo quer também romper com fórmulas. “Nas outras áreas artísticas há um caminho em relação a dramaturgia que é muito mais livre. Se você vai assistir um espetáculo de dança, você não sai perguntando qual era a historinha que foi contada, né? Mas no teatro a gente ainda fixa muito nesse lugar e se esquece que a gente pode fazer também surgir experiências e sensações só com a atmosfera que a gente apresenta e a atmosfera que a gente traz”, opinou.

FINANCIADORES E EQUIPE

André Tristão apresenta "Eu preciso Que Vocês Me Escutem" no Armazém Cultural no domingo, 29 de janeirro de 2022. Foto: @teroqueiroz | @teatrinetv

O projeto foi contemplado no edital do Programa Municipal de Fomento ao Teatro FOMTEATRO/2021, promovido pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur).

Espedito di Montebranco faz a Iluminação e Ewerton Goulart faz preparação vocal.

O espetáculo conta com audiodescrição feita por Candida Abes e o intérprete de LIBRAS: Cláudio Vasques, da Sinalize - Possibilidades Em Acessibilidade.

A produção executiva é de Marcos Mattos (Arado Cultural).

Na equipe de produção estão Gabriel Brito e Maura Menezes.

A Assessoria de Imprensa é assinada por Isabela Ferreira, da Reconta Conteúdo e as redes sociais comandadas por Tatyana Salvador, da My! Agência digital.

O ARMAZÉM CULTURAL

Público faz fila em frente ao Armazém Cultural na noite do domingo, 29 de janeiro, para assistir o novo espetáculo de André Tristão. Foto: @teroqueiroz | @tetarinetv

Além de celebrar o espetáculo, o público de André se disse grato pela existência do Armazém Cultural como opção acessível de cultura à população. “Aqui em Campo Grande é escasso espaços culturais, então, esse espaço do Armazém é essencial e tem que ter mais arte aqui. Tem que trazer tudo o que puder e preservar. Isso aqui é nosso, do campo-grandense e temos que tê-lo como opção cultural. É inviável não existir. Tem que ter mais espaços, isso sim!”, apontou a jovem Andreza.

Na mesma linha, Carvalho defendeu que o Armazém deve estar  disponível à cultura e preservado. “O espaço para o município, população e seus artistas. É fundamental que os poderes públicos olhem para os espaços culturais e fomentem. O que existe em Campo Grande são grandes artistas e eles precisam de fomento, de espaço e principalmente de respeito”,  disse.

Ávido consumidor da produção cultural campo-grandense, Rossini diz que a cidade tem uma cena cultural rica, mas pouco valorizada. “Na quinta e sexta a gente já começa a ver os movimentos culturais de Campo Grande. A cidade tem uma cena artística rica. Frequentamos bares, peças teatrais, espetáculos de dança, de música... Então, assim, o fomento, ainda que de maneira excipiente, a cultura se apresenta. Veja as divulgações, na semana. Sempre há bons espetáculos, apesar de estes ocorrerem muito graças ao esforço e trabalho de artistas que meio que arautos, abrem, tentam e insistem! Por exemplo, o Espedito que eu o vejo fazendo isso aí há 30, 40 anos. A gente se emociona pelo trabalho dessas pessoas que acreditam no teatro, acreditam na arte, mas vale lembrar que elas vivem disso, então ficamos tristes que um edital cultural como o do FIC leve dois, três anos para ser pago”, pontuou.

Para solucionar a grande parte dos entraves culturais da cidade, Roissini diz que a primeira coisa que os gestores de governo e município devem fazer é escutar os artistas. “Na minha opinião é escutar os artistas, eles sabem o que precisam! Na minha opinião precisamos de um Teatro Público Municipal, precisamos ter um espaço para apresentação de uma Orquestra, mas isso é a opinião de um professor. Eu acho que há, com esse novo governo, a possibilidade de que haja melhor escuta dos artistas“, sugeriu.

Ligia também falou sobre o espaço, dizendo que caso o Armazém Cultural tivesse equipado para apresentações, a experiência do público seria em outro nível. “Temos um espaço histórico, que tem uma estrutura incrível, que é central e todos conseguem vir, que é lindo e carrega uma história nele, mas as paredes estão sujas e a acústica que não favorece! Imagina se nós tivéssemos um investimento para equipar esse ambiente? Somos a única Capital que não tem um teatro público. Uma cidade que não se alimenta de teatro é uma cidade que não respira, que não pensa. Quem conta a história das cidades são os artistas”, finalizou.  


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Tags: #TeatrineTV, André Tristão, Campo Grande, CULTURA, destaque_principal, Eu Preciso Que Vocês Me Escutem, Ewerton Goulart, Giordano Castro, Ligia Prieto, Mato Grosso do Sul, Raquel Naveira, Rossine Benício, Sérgio Carvalho

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