A rapper SoulRa, de Dourados (MS), lança seu primeiro álbum às 21h da 5ª feira (21.dez.23) em todas as plataformas digitais. Faça o pré save aqui.
Intitulado 'Do Interior', conforme a artista, o álbum mescla ancestralidade sul-africana e cultura fronteiriça sul-mato-grossense ao Rap.
Em entrevista ao TeatrineTV, SoulRa revelou que busca inovar e criar, em vez de reproduzir, e que pretende impressionar seus ouvintes com o álbum de estreia. “O público pode esperar versatilidade, originalidade e identificação. Esse disco vai surpreender com toda certeza porque eu sou bastante experimental e nunca me preocupei em me enquadrar”, introduziu.
Segundo SoulRa, para criar tendências é preciso superar os padrões. “Desde o início da minha carreira quando alguns questionaram meu RAP por ser feito com banda e não eletronicamente — que eu também amo — não me importei. Só sigo fazendo meu trabalho na vibe que gosto e estou muito satisfeita com os frutos que venho colhendo”, revelou.
Rimar em qualquer estilo musical é que levou a artista a produzir um disco inaugural diverso, em que mescla reservas culturais que atravessam o oceano. “Sou aberta e me cobro no sentido de não me acomodar. Eu gosto de criar, de inovar. Não gosto de reproduzir. Também me desafio a rimar bem em qualquer beat, seja num drill ou num boombap, ou até num instrumental que não pertença ao Rap. Minhas referências para esse disco vem de dentro, por isso também, 'Do Interior'. Memórias afetivas, vivências, gírias, músicas e artistas que marcaram minha infância. Falo da Luciana Mello, artista negra e feminina da soul music Brasil que marcou minha infância, trago os gritos dos bailes de chamamé sampleados com Amapiano, que homenageia minha ancestralidade. Enfim, muita coisa”, apontou a rapper douradense.
Para SoulRa, ao mesclar o estilo musical fronteiriço ao Rap, não necessariamente está produzindo um disco com uso do Sertanejo. “Não vejo a cultura fronteiriça como uma cultura sertaneja, mas sim, interiorana. A cultura fronteiriça para mim significa essa união de povos e territórios, com costumes diferentes, mas que se confundem ou que influenciam uns aos outros a ponto de potencializarem-se. A fronteira atravessa minha vivência em todos os sentidos”, avaliou. “Eu não considero aqui sertão. Considero aqui interior. Sertão na minha visão é lá de onde vem meus pais e meus avós nordestinos. Aqui é cerrado, é Pantanal”, acrescentou.
A artista detalhou que por ter crescido próximo à fronteira usava o "portunhol" para se comunicar e incorporou essa linguística em sua música. “Moro a cerca de 1 hora de Pedro Juan Caballero e ali íamos em família todos os meses fazer compras de supermercado, de importados, de muamba, comprar erva mate boa, lanchar sopa paraguaia e chipa, ouvir reggaeton nas rádios. Lá eu deixo meu portunhol, coisa que quis trazer também nesse álbum. Não musiquei um castelhano ou guarani corretos, quis mesmo trazer o portunhol, esse que a gente enquanto brasileiro se arrisca a falar para se comunicar na fronteira. E sendo o Rap a música da realidade, não há como eu não trazer essas vivências todas em minhas letras”, considerou.
A música fronteiriça presente no álbum ‘Do Interior’, se aproveita da liberdade histórica oferecida pelo estilo da cultura Hip Hop. “O instrumental do Rap também veio da cultura do sample, isso permite que o artista se aventure pela música sem amarras, então, porque não samplear uma sanfona?”, questionou.
Apesar de não considerar que usa o sertanejo em seu disco, SoulRa contou que sua infância perpassa pelo estilo musical, e que de fato lhe trazem influências: “Gosto do sertanejo raiz, que fala de fato das coisas da terra, trazendo narrativas do trabalhador do campo ou dos povos originários, como músicas de Almir, Geraldo e Alzira Espíndola, Renato Teixeira, Delinha…, mas, como boa canceriana, também gosto do romântico. Então, o início ali do Sertanejo Universitário — João Bosco e Vinícius, Maria Cecília e Rodolfo — me pega muito e me trazem memórias afetivas porque eu de fato consumi”.
Na atualidade, a artista mergulhou na experimentação de outros estilos musicais, tendo construído seu trabalho no Hip Hop com influência principalmente de mulheres e sob a suas vivências com artistas douradenses. “Hoje em dia eu consumo bem pouco das novidades do mercado sertanejo, estou mais numa vibe de música urbana do mundo todo (pagode, afro beat, house, reggaeton, drill, trap, boom bap, funk, jazz, etc). No Hip Hop minhas referências são muitas, especialmente mulheres: o grupo Ladies First e as próprias Queen Latifah e Monie Love, Negra Li, Stéfanie, Wu Tang-Clan, Racionais, Fase Terminal, a nova geração de mulheres MCs do Brasil. B-girls e b-boys e grafiteiros que me cercam. É toda uma vivência cotidiana e de muitos anos que me alimenta e impulsiona”, considerou.
Em ‘Do Interior’, SoulRa se utiliza do estilo musical Amapiano (um estilo musical oriundo da África do Sul). A douradense explicou que é admiradora da cultura produzida no continente africano, por considerar as produções de lá, à frente no tempo. “O Amapiano é um ritmo sul africano muito leve e envolvente que me faz dançar demais. Sou apaixonada por tudo que o continente africano e seus diversos países produzem. Está muito à frente: em moda, música, filosofia”.
Além disso, ao incluir o estilo sul-africano em seu disco de estreia, a artista considerou estar reverenciando seus ancestrais. “Eu busco sempre me manter próxima dessa raiz ancestral porque me orgulho e aprendo muito com ela. O melhor da música brasileira tem suas origens lá [na África] e isso é algo que quero perpetuar, mas sempre com identidade. Pretendo lançar em breve, após o disco, mais afrobeats bem do meu jeitinho”, adiantou.
Destaque na cena musical sul-mato-grossense e ganhando visibilidade nacional, tendo inclusive concorrido ao Prêmio Multishow de 2023, com o clipe ‘Trapnojo’, a rapper precisou mudar-se para São Paulo como uma estratégia em prol de sua carreira musical. No entanto, SoulRa tem mantido sua conexão com interior sul-mato-grossense. “Me mudei para São Paulo no início deste ano em busca de produzir com mais acesso, ampliar minhas conexões artísticas, sair da zona de conforto da bolha regional para enfrentar novos públicos e também porque lá estão concentrados veículos de projeção nacional. Então vejo que é um passo necessário para quem pretende difundir seu trabalho a nível de Brasil. Lá acontece um grande encontro cosmopolita. Tem gente do país e do mundo todo circulando diariamente, não tem como não ser uma experiência enriquecedora. Também por questões de logística, vender show com equipe saindo de um aeroporto de SP o torna mais acessível aos contratantes. Mas ainda não estou 100% em São Paulo. Esse ano vim todos os meses ao MS a trabalho e já aproveitei para curtir a família e os amigos”, observou.
PRODUÇÃO
A produção de ‘Do Interior’, tem 8 faixas em que serão identificadas participações de Flor MC (do Mato Grosso) e Llezz e Maeda (Mato Grosso do Sul). Entre os arranjos há a criação da trompetista paulista Nicolly, do guitarrista e cantor Ton Alves e scratches do DJ Gio Marx, ambos da Capital sul-mato-grossense. O disco conta ainda com as batidas de Limanobeat, LP 067, Camilo, Felino e Toniazzo do selo independente Locked inc.
A rapper conclui adiantando o que deve virar clipe no disco inaugural. “Minhas expectativas são as melhores porque tem música para tudo ali. Para amar, para exprimir revolta, para chorar no banho… A primeira faixa Yerba Mate prod. Felino, virá com um clipe babadeira que iremos gravar em breve e que receberá fomento da Lei Paulo Gustavo municipal (Dourados). A segunda música que quero produzir audiovisual é Colar de Miçanguinha, um hit certeiro escrito junto com Llezz, que também é artista do interior, lá de Sidrolândia (MS)”, finalizou.
FICHA TÉCNICA
O álbum de estreia de SoulRa tem os seguintes profissionais na equipe:
Intérprete: SoulRa;
- Direção musical: SoulRa Locked inc;
- Gravação, mixagem e masterização: Toniazzo Locked inc.
Participações Especiais:
- Flor MC;
- Llezz Maeda.
Arranjos:
- Nicolly (trompete);
- DJ Gio Marx (scratch);
- Ton Alves (guitarra).
Beatmakers:
- Felino LP 067;
- Limanobeat;
- Toniazzo;
- Camilo .
Design Visual:
- Capa, contracapa e visualizers: Tatiana Varela - Punto Aureo;
Direção artística: SoulRa;
Figurino/estilismo:
- SoulRa by Mina Zika;
- Beleza: Sarará Braids, Ilda e Ana Alice (hairstyle)
- Laura Castro (makeup);
- Franciele Souza (nail designer);
Patuá: Sarodi.