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ENTERRANDO O PATRIARCADO

Mulheres cantam e batucam contra o feminicídio em MS

Ação no Dia Internacional da Mulher foi realizada pla ColetivA Sempre Vivas e Marcha Mundial de Mulheres MS, com apoio do Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul (CCMS)

Por TERO QUEIROZ • 11/03/2025 • 17:59
Imagem principal Mulheres iniciaram as ações do Enterrando o Patriarcado na tarde do Dia Internacional da Mulher em Campo Grande (MS). Foto: Tero Queiroz

Na noite de 8 de março de 2025, Dia Internacional da Mulher e término do Carnaval 2025, dezenas de mulheres se reuniram em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, para protestar contra o feminicídio, um dos principais problemas de violência de gênero no estado.

Com o apoio do Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul (CCMS), os movimentos ColetivA Sempre Vivas e Marcha Mundial de Mulheres MS deram voz a letras autorais e paródias de sambas, todas com o objetivo de denunciar a violência contra as mulheres. A iniciativa, chamada ‘Enterrando o Patriarcado’, começou às 15h com a Cicletada de Las Ninãs na Plataforma Cultural, seguida de um cortejo até o Bar do Zé Carioca. Em seguida, as participantes realizaram intervenções musicais nos blocos Quebra Ossos (17h), Forrozeiros (18h) e Eita (19h).

Uma das paródias, intitulada ‘Samba Que Elas Querem’, protestou contra a estrutura machista da sociedade, com letras reformuladas da música "Mulheres", de Toninho Geraes, popularizada por Martinho da Vila. A versão paródia cantada pelas manifestantes proclamava: “Nós somos mulheres de todas as cores/De várias idades, de muitos amores/Lembro Dandara, mulher foda que sei/De Elza Soares, mulher fora da lei/Lembro Marielle, valente e guerreira/De Chica da Silva, Toda Mulher Brasileira/Crescendo oprimida pelo patriarcado/Meu corpo minhas regras, agora mudou o quadro/Mulheres cabeça e muito equilibradas/Ninguém está confusa, eu não te perguntei nada...”

Camila Costa ao microfone durante o ato 'Enterrando o Patriarcado'. Foto: Tero Queiroz Camila Costa ao microfone durante o ato 'Enterrando o Patriarcado'. Foto: Tero Queiroz 

Além de cantar, as mulheres tocavam latas, usadas como tambores, promovendo uma batucada que envolveu o público. A banda de batucada é fruto de oficinas realizadas pela ColetivA Sempre Vivas e o Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul. “A Coletiva foi fundada há três anos. Este ano, decidimos focar em nossas pautas com oficinas de batucada. Cantar para que não nos matem. A oficina visa unir as mulheres e evitar que mais uma de nós morra nas mãos de um homem”, explicou Camila Costa, da Marcha Mundial de Mulheres e fundadora da ColetivA Sempre Vivas.

Segundo Costa, a batucada é feita com latas devido à falta de recursos para instrumentos, mas a luta contou com o apoio crucial do Comitê de Cultura. “O Comitê bancou tudo: a batucada, os ensaios, as percussionistas que nos ajudaram. Foi fundamental para que hoje tivéssemos essa força para estar aqui batuqueando”, destacou. Apesar dos desafios, as participantes almejam expandir o grupo.

Bruna durante o ato 'Enterrando o Patriarcado'. Foto: ReproduçãoBruna durante o ato 'Enterrando o Patriarcado'. Foto: Reprodução

Vocalista do grupo, a MC, cantora e poeta Bruna Valente compartilhou as dificuldades de enfrentar um ambiente machista na trajetória musical. “As mulheres começam a tocar, têm autoestima, mas às vezes outros tentam descreditar, dizendo que ‘isso não é legal, é só uma diversão’”. Ela, no entanto, defendeu a importância da diversão como direito de todos. “O que seriam os humanos sem o lazer? A mulher tem que ter o lazer, tem que ter onde se reunir. A união é o outro lado disso. Quando nos unimos, compartilhamos nossas histórias e nos identificamos, porque nossas experiências são muito parecidas. Somos mulheres, vivemos no capitalismo patriarcal”, destacou.

Quanto a banda, Bruna apontou o maior obstáculo da manutenção de um projeto musical. “O maior desafio é manter as mulheres unidas, porque é casa, trabalho, filhos. É a vida de manter uma casa, ser a estrutura da casa... A maior dificuldade é essa, mas estamos conseguindo”.

Cortejo até o Bar Zé Carioca. Foto: Tero Queiroz Cortejo até o Bar Zé Carioca. Foto: Tero Queiroz 

A ColetivA Sempre Vivas realiza diversas ações culturais no estado voltadas para o enfrentamento da violência de gênero e a promoção dos direitos das mulheres. “Este ano já temos projetos como os 21 dias de ação. A Marcha Mundial das Mulheres também organizará uma festividade sobre o aniversário. A ideia é aumentar para 200 participantes no próximo ano”, projetou Camila.

Para Bruna, continuar com o projeto de batucada é um grande desejo. “É uma enorme alegria ser porta-voz dessas mulheres. Quando pegamos o microfone, não apenas cantamos o que está escrito na música, mas emanamos nossa emoção e passamos isso para o público, que nos devolve de diversas formas. Às vezes, o público pode não aceitar bem as músicas, pois são reflexivas, falando de abusadores e machistas. Embora nem sempre seja aceito, se as mulheres sentem, isso tem muita importância e significado”, concluiu.


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