O espetáculo Guadakan, do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, de Corumbá (MS), lotou o Teatro Glauce Rocha (UFMS), durante uma sessão às 20h da 4ª.feira (12.abr.23), em Campo Grande (MS).
Os 752 assentos do teatro foram poucos para comportar as muitas pessoas que compareceram à sessão única que abriu a breve turnê do grupo pelo estado. Guadakan ainda passará por Dourados e Ponta Porã, como mostramos aqui no TeatrineTV.
Entre as centenas de pessoas no público, uma em especial era incomum, Mônica Riedel (a primeira-dama). É sabido que políticos não assistem espetáculos de teatro, dança e congêneres de maneira espontânea em MS, isso é, a não ser que estejam cumprindo agendas públicas.
Diante disso, no final da apresentação, buscamos saber da primeira-dama quais eram suas impressões sobre Guadakan, que denuncia a destruição e cobra atitudes para preservação do bioma pantaneiro a partir de uma lenda indígena do povo Gató – originários da planície alagada.
— Muito atual, muito importante! Acho que a arte ela comunica de uma forma diferente. Aqui foi muito impactante, sem ser violento. Ele transborda uma beleza também, uma forma de conscientizar as pessoas de uma forma diferente — introduziu Mônica, numa conversa com o TeatrineTV.
A esposa de Riedel estava acompanhada da filha do casal, Marcela, que ao contrário dos pais, frequentemente é vista em apresentações artísticas na Capital, em razão de também ser artista. Marcela é ilustradora, do perfil @lelaeomundo.
Mônica avaliou que a circulação de projetos como Guadakan podem oferecer à população um contato necessário com a arte e conscientizar sobre a preservação do Pantanal.
— Eu vou falar para ele [governador Eduardo Riedel], que este trabalho [Guadakan] está muito impactante e vou apontar da importância de isso ser levado para todos os municípios do estado e para fora de Mato Grosso do Sul, para que nossa história seja contada para todo o Brasil — garantiu.
Além de celebrar o grande público que se fez presente na sessão, a diretora do espetáculo e presidente do Moinho Cultural, Márcia Rolon, externou que se sentiu ainda mais valorizada ao notar que a primeira-dama estava no público juntamente com a filha.
— A gente vai ter mais duas cidades daqui e mais três cidades fora: São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro — explicou.
Rolon se disse supresa e lisongeada, com tamanho público nesta 1ª vez que saem de casa com os dois principais produtos: a Orquestra e a Companhia de Dança.
— Essa receptividade está sendo surpreendente. Eu achei que estariam aqui algumas pessoas, sim, mas ver tanta gente assim e até a primeira-dama veio, é algo incrível. Porque esse é um tema realmente importante que tem que chegar a todos e principalmente nesses agentes políticos... Acreditamos que esse é um bom sinal a Mônica aqui, é o início da inserção da cultura verdadeiramente dentro da agenda pública, como pauta verdadeiramente — considerou Rolon.
ACERTOS DE GUADAKAN
O espetáculo Guadakan acerta em muitos aspectos ao unir dança contemporânea, com o álbum clássico adaptado pelo maestro Eduardo Martinelli. Para a criação, Martinelli usou temas do músico italiano Ezio Bosso. Os arranjos foram executados ao vivo pela Orquestra de Câmara do Pantanal (OCAMP).
A principal força do espetáculo Guadakan está na clareza de sua dramaturgia ressoada e dimensionada pela assertiva trilha. Não basta tocar o que se interpreta, ao longo do espetáculo ocorre uma discussão afinada entre a dramaturgia e a música da obra.
— Guadakan levou dois anos de pesquisas. Quando a gente encontrou o álbum, indicado pelo coreógrafo Chico Neller, entramos num grande laboratório, numa interpretação desde o respiro musical, por meio das adaptações das músicas feitas pelo Eduardo Martinelli, que trabalha conosco há mais de 8 anos, então ele conhece o processo todo — detalhou Rolon.
A exaustão de pesquisa corporal e o chamado à participação efetiva, isso é, mais do que no campo de interpretação, fez com que Guadakan conseguisse chegar em um local privilegiado no que tange espetáculos de dança de MS, em que se consegue unir beleza e força nas coreografias coletivas ou em solos.
— Os bailarinos são levados a serem intérpretes-criadores. Existe a plástica, a técnica e o desenho coreográfico desenvolvido pelo Chico Neller, por exemplo, mas a interpretação é de cada um, assim como a criação de alguns solos que são dos bailarinos... Isso faz com que eles sejam mais pertencentes a obra, pois também desempenham um papel de composição — pontuou.
A diretora disse que fazer com que o artista integre a obra de maneira intensa é um dos diferenciais do Moinho Cultural.
— Quando você vê no palco algo e se pergunta: o que tem ali? Eu respondo: tem muito de cada um deles e delas. Muito trabalho, estudo, laboratórios, choros... a cobra trocando de pele é bem a gente (risos). Deu tudo errado? Vamos lá, revisa, renasce. Tudo isso vivemos dia após dia. Não só com a companhia, mas também com todas as crianças que estão dentro do Moinho, que são levados a pensar a arte de maneira intensa, como mecanismo de transformação e extremamente profissional — comentou.
Completando a lista de acertos, destacamos o Design de Luz, que às vezes contrapunha a melodia doce da orquestra e fazia com que os movimentos bem-definidos dos bailarinos ganhassem profundidade narrativa dramática, ultrapassando lugares comuns da plasticidade.
No Pantanal de Guadakan, o verde das matas se misturam as núvens do céu, enquantos os seres bailam sob toda a imensidão de beleza.
A suavidade das notas de piano e violino eram distorcidas por incêndios devastadores, num campo de invertebrados consumidos pelas chamas.
“Quantas espécies foram extintas, antes que pudessem ser catalogadas?”, questionava o ator Arce Corrêa andando sobre 'rios ensanguentados' em que esqueletos se debatiam.
— O Espedito Di Montebranco, além de receber toda essa carga dos nossos laboratórios, ele é uma pessoa de teatro, e isso potencializa essa iluminação narrativa. Nós estivemos na Serra do Amolar, trouxemos muito do laboratório lá e apesar de ele não ter estado conosco lá, a água, as cores daquela local estão tudo aqui — considerou Rolon.
Para conseguir circular por todo Mato Grosso do Sul, Márcia observou, porém, que Guadakan terá que renunciar a alguns aspectos, entre eles a iluminação.
— Porque lá em Dourados, por exemplo, faremos na praça e durante a tarde, então, perdemos o show da iluminação e ao mesmo tempo transferimos ao balé a responsabilidade de manter a potência narrativa do espetáculo. Vamos fazer esse teste, se der certo, vamos provocar os parceiros para chegarmos em mais cidade — finalizou a diretora.
Completaram o time, o regente da Orquestra José Maikon Amorim Alves e o figurinista de Luiz Gugliatto, que arrancou suspiros com suas peças originais.
Confira trechos da apresentação de Guadakan na galeria de imagens abaixo:
[Best_Wordpress_Gallery id="34" gal_title="ESPETÁCULO GUADAKAN - MOINHO CULTURAL"]
