Considerada uma das maiores tragédias ambientais e trabalhistas do Brasil, o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) — pertencente à mineradora Vale — completou cinco anos às 12h28 desta 5ª.feira (25.jan.24).
A ganância humana perpetrada por uma mineradora, além de devastar aquele bioma para sempre, ainda resultou na morte de 272 pessoas, sendo duas ainda fetos nos ventres de suas mães soterradas por toneladas de lama.
Construída em 1976, pela Ferteco Mineração (adquirida pela Vale em 2001), a barragem tinha 86 metros de altura e o comprimento da crista era de 720 metros. Os rejeitos dispostos ocupavam uma área de 249,5 mil metros quadrados e o volume disposto era de 12,37 milhões de metros cúbicos. Até hoje, três das vítimas ainda estão sob a grossa camada de barro.
Pelas vidas, em fevereiro de 2021 os Ministérios Públicos Estadual, Federal, a Defensoria Pública e Governo de Minas Gerais fecharam um Acordo de Reparação Integral no valor de R$ 37,7 bilhões com a Vale. A quantia supostamente serviria para "a reparação socioeconômica e socioambiental das comunidades afetadas". Eles tratam o episódio como uma tragédia ambiental, incidente, mas não, aquilo foi um massacre!
MANEY VALE MATA
Fazendo uma paródia decolonial com a palavra “Money”, que em inglês se refere ao dinheiro, Tero Queiroz, que como rapper se rebatizou TERO.X, lançou sua nova música: “Maney Vale Mata”, na 6ª feira (29.dez.23), em todas as plataformas digitais. A música é um alerta para Mato Grosso do Sul e outros estados sobre as consequências para as futuras gerações, com base no exemplo terrível de Brumadinho, de avanços degradantes sobre o meio ambiente.
Produzida ao longo de 2023 na Condado Produções, de Nando Dutra e Walter Correa, em Campo Grande (MS), a música ironiza as ações fictícias adotadas para a preservação dos biomas no Brasil. “Não tem nada de concreto sendo feito, há muito tempo que o mundo está nos alertando que não haverá futuro”, disse o artista.
Na nova produção, TERO.X cita a ocorrência de enchentes, secas extremas e queimadas, que resultam em mortes e na escassez de ar e qualidade de vida no planeta: “Maney Vale Mata / Maney Vale Mata / Eu quero respirar, mas é coisa de primata”, ironiza no refrão.
De acordo com o artista, a letra inicia com uma tentativa de compreender as decisões terríveis para a natureza em troca de ganhos financeiros. “São dias infernais que vem e ninguém pensa nisso? Ou sei lá, pensa de maneira fictícia, sabe? O que um monte de rico em uma reunião pode resolver sobre a natureza? Nada! São eles que estão lucrando com isso e penso que não se importam. Estamos sentindo os impactos, ainda suportáveis agora, com calor demais, seca forte, enchentes noutro canto, queimadas no Pantanal... As empresas seguem com essa exploração predatória, poucos ficam ricos e muitos pagam a conta”, lamentou o artista.
No single, TERO.X também faz referência ao ambientalista Francisco Anselmo de Barros, o Francelmo, que aos 65 anos ateou fogo no próprio corpo em 12 de novembro de 2005 em Campo Grande, durante um protesto contra o projeto de instalação de usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai, onde fica o Pantanal. Num ato de desespero por ser ouvido, o ativista molhou com gasolina e ateou fogo em dois colchões em plena Barão do Rio Branco, sentado em meio às chamas. “Passando pela Barão do Rio Branco, que foi palco do sacrifício do Francelmo, me pego pensando sobre o quão forte e crente na luta ele foi, a ponto de fazer tal coisa. Ainda assim, já ouvi algumas pessoas dizendo que foi maluquice, os poderosos não querem dar valor e compreender a dimensão daquele ato. Algumas pessoas acham que o futuro é a exploração predatória, mas estão enganadas, não existirá futuro nem em Mato Grosso do Sul e nem em qualquer outro lugar se o Pantanal e os demais biomas não forem preservados”, considerou.
Ao longo da música e fortemente no refrão estão os questionamentos sobre o massacre ocorrido em Minas Gerais, resultante da ganância. “Uma criancinha soterrada por barro em uma cadeirinha de bebê, isso me arrebentou no meio, não superei e nunca vou superar aquela imagem. Na música eu trago a voz dos meus sobrinhos numa referência ao pique esconde — uma brincadeira bem conhecida — mas que precisa de um chão firme para ocorrer. Não podemos condenar nosso futuro, o futuro deles, para encher os bolsos. Precisamos entender que dinheiro não vale o ar, a qualidade de vida com clima controlado para as próximas gerações”, completou. Ouça a música na plataforma de sua preferência:
OUTRO MASSACRE HUMANO E AMBIENTAL
A Vale, BHP e Samarco juntas são autoras do massacre de Mariana, ocorrido 5 de novembro de 2015, considerado a pior tragédia ambiental do Brasil. O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais deixou 19 pessoas mortas, devastou o Rio Doce e atingiu cidades mineiras e capixabas.
O rompimento ocorreu às 16h20 e liberou cerca de 55 milhões de metros cúbicos de lama. Em apenas 15 minutos, a lama chegou a Bento Rodrigues, uma pequena cidade localizada a 8 km da barragem, que foi completamente soterrada. Hoje, somente escombros permanecem no local.
A lama percorreu a bacia do rio Doce por 16 dias, atingindo diversas cidades ribeirinhas e causando escassez de água, diminuição da pesca, do comércio e do turismo. A área afetada se estendeu por um raio de 80 km, causando graves prejuízos para a indústria local.
No total, 39 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo foram impactados, afetando a vida de 1,2 milhão de pessoas. Mais de dois mil hectares de terras ficaram inundados e inutilizáveis para o plantio.
Nesta semana, a Justiça Federal condenou a Vale, BHP e Samarco a pagar R$ 47,6 bilhões como indenização pelos danos morais coletivos causados pelo rompimento de Mariana. O valor deve ser corrigido com juros desde a data da tragédia. Cabe recurso. O pagamento deverá ser realizado após o trânsito em julgado da decisão.
VALE
A Vale S.A. é uma multinacional brasileira de mineração e uma das maiores empresas de logística do país. Fundada em 1942 como Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a empresa foi criada para extrair minério de ferro na região de Itabira, em Minas Gerais, durante o governo de Getúlio Vargas. Desde então, a Vale expandiu suas operações e se tornou uma das maiores mineradoras do mundo, atualmente sendo uma empresa privada com sede no Rio de Janeiro.
Dados sobre a Vale S.A.:
- Maior produtora mundial de minério de ferro, pelotas e níquel;
- Produz também manganês, ferroligas, cobre, bauxita, potássio, caulim, alumina e alumínio;
- Participa de consórcios do setor de energia elétrica e opera nove usinas hidrelétricas no Brasil, Canadá e Indonésia;
- É uma empresa privada, de capital aberto, com sede no Rio de Janeiro e ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Madrid e Nova York;
- Opera em 14 estados brasileiros e nos cinco continentes, com cerca de dois mil quilômetros de malha ferroviária e nove terminais portuários próprios;
- A maior empresa do mercado de minério de ferro e pelotas, além de ser a maior produtora de manganês e ferroligas do Brasil;
- A Vale consome cerca de 5% de toda a energia produzida no Brasil;
- Incorporou a canadense Inco, a maior mineradora de níquel do mundo, em 2006;
- Em 2012, a empresa foi considerada a pior do mundo em direitos humanos e meio ambiente.
QUEM É TERO.X
TERO.X, também conhecido pelo nome Tero Queiroz, é um sul-mato-grossense de 27 anos, que iniciou sua carreira artística aos 18 anos e desenvolveu habilidades em diversas áreas, incluindo música, teatro, cinema, TV, produção cultural, produção audiovisual e comunicação cultural.
Em agosto de 2018, TERO.X lançou seu primeiro rap, "Silêncio da Noite", acompanhado por um videoclipe. A produção musical é de Bruno dos Santos (Exclamação Sonora For Beats), um estúdio musical localizado no bairro Tiradentes, na capital.
Em 20 de julho de 2020, TERO.X lançou seu segundo rap, "Chinelo de Dedo", com a participação da cantora Marta Cel. Esse single contemporâneo trata de temas políticos, incluindo denúncias e alertas sobre genocídio de indígenas e questões ambientais.
Em 2021, TERO.X lançou "Vida de Inseto", uma música que representa um manifesto pelo reconhecimento dos trabalhadores que sofrem com apagamento social, histórico e econômico. A música foi lançada em 27 de agosto de 2021 e teve uma grande repercussão. Todas as três músicas foram produzidas no estúdio da Condado Produções, localizado no bairro Estrela do Sul, na capital de MS.