A cia Apoema encerrou a temporada de estreia do espetáculo 'Terra Brava' com apresentações na Praça da Poesia (14.dez) e no Instituto Aciesp (16.dez), em Campo Grande (MS).
Anteriormente, o grupo havia se apresentado na Associação Lar do Pequeno Assis (10.dez) e na E.E Profa. Clarinda Mendes de Aquino (12.dez).
Em todas as apresentações a entrada foi gratuita.
Escrito por Nathália Maluf, com colaboração de Dora Gomes e dirigido por Lígia Prieto, o espetáculo explora temas de pertencimento, ancestralidade e resistência, inspirados na história familiar da autora, neta de nordestinos que migraram para MS.
Em cena, os atores Nathália Maluf e Tero Queiroz executam uma performance que mescla elementos teatrais e circenses, acompanhada pela trilha sonora tocada ao vivo por Vinícius Mena.
PRAÇA DA POESIA
Na Praça da Poesia, espaço comumente ocupado por feirantes e artistas de rua, a apresentação que aconteceria de tarde foi adiada por algumas horas, devido à forte chuva. À noite, no entanto, a chuva deu trégua e o público pôde apreciar a história de Maria e José.
Após a apresentação, em meio às lágrimas do público formado em maioria por familiares da autora do espetáculo, um sorriso emocionado se destacou. Dora Gomes, de 46 anos, não escondeu a emoção ao ver a história de sua família sendo apresentada naquela noite. "Se eu assistir a esse espetáculo 100 vezes, eu vou me emocionar 100 vezes. Essa história me emociona muito, porque tem a morte do meu tio, e depois o meu pai ter ficado doente, a luta da minha mãe, tudo isso emociona a gente. Mas não é só minha família, o espetáculo retrata as tantas Marias e os tantos Josés da vida. É uma história que se repete, se formos procurar, vão ter muitas histórias parecidas com essa", declarou.
Morador das proximidades da Praça da Poesia, o professor aposentado José Manfroi, de 72 anos, também se emocionou com a apresentação da Cia Apoema. "O espetáculo traz a história da vida de milhões de brasileiros e ver aqui, na praça do meu bairro, essa praça construída pela comunidade foi uma grande emoção. Além disso, com o Natal se aproximando e nosso presépio sendo construído ali [apontou para o centro da praça] não tem como não lembrar da história de dois retirantes, Maria e José, que também tiveram que sair de sua terra natal", declarou .
Também neta de nordestinos, a atriz e palhaça Kelly Figueiredo disse que o espetáculo da Cia Apoema merece ser visto por públicos de outros lugares. "Foi uma experiência muito agradável assistir aqui nessa praça. O espetáculo tem um tema que nos toca e chega em mim de uma forma que, eu também tenho família nordestina, e eu fico pensando na minha avó que faleceu ano passado. Eu nunca conversei com ela sobre isso, mas será que eles passaram por isso? Eu fiquei bem emocionada e bem feliz com o trabalho que eles [cia Apoema] fizeram. É um trabalho bem bonito, que fala de coisas importantes e que acontecem no dia-a-dia do brasileiro, merece rodas o estado e ser apresentado mais vezes", disse.
ACIESP
No Instituto Aciesp, crianças e idosas assistiram ao espetáculo em uma tarde ensolarada, acomodadas sob a sombra das árvores do quintal da instituição. Ao contrário da emoção chorosa observada na apresentação da Praça da Poesia, neste espaço, o público sorriu muito e se mostrou verdadeiramente fascinado com as acrobacias apresentadas pela companhia.
Em meio aos burburinhos pós-apresentação, dois se destacaram: Maria Divina, de 62 anos e Vanda Adolfo, de 76 anos, comentavam as semelhanças do espetáculo com suas próprias histórias de vida. "A minha família contava uma história mais ou menos assim, que o meu pai queria sair da cidade, porque trabalhava muito e não conseguia receber o dinheiro e a gente plantava e não dava, mas ele não ia por causa dos filhos pequenos", relatou Maria.
Para Vanda, assistir à apresentação causou um misto de emoção e maravilhamento. "Foi maravilhoso, bem diferente de assistir por causa daquelas coisas que eles faziam nos ferros, mas a história é muito difícil, igual naquela época. A gente trabalhava muito, meu pai não parava, igualzinho ali", disse, referindo-se à dramaturgia e ao cenário do espetáculo.
Funcionária da Aciesp, Jaqueline Correia, de 39 anos, revelou que a Cia Apoema possibilitou sua primeira experiência com o teatro. "Quase que eu chorei de emoção, mas ri muito também, eu nunca tinha assistido teatro. Fique tão feliz, eu já tinha ido no circo, mas nunca tinha visto desse jeito. Tudo me emocionou: as palavras, o jeito que eles expõe as coisas, tudo muito ensaiadinho, perfeitinho, é muito bonito. Pra gente é um complemento pra vida, né? Você aprende muito com a cultura", concluiu.
Além das quatro apresentações, a Cia Apoema também ministrou os Workshops de Circo-Teatro: 'Um borrar de fronteiras brincante' e 'Um borrar de fronteiras: Circo, Teatro, Corpo Cênico e suas possibilidades".
O espetáculo 'Terra Brava' foi viabilizado com recursos do Fundo de Investimentos Culturais (FIC/MS) e recebeu apoio do Ateliê Ramona Rodrigues, Grupo Casa, Grupo Fulano di Tal e Cia Pisando Alto.
Mais informações podem ser obtidas no Instagram @cia.apoema